Agora que o insuspeito e mui conceituado diário “i” o considerou como o “Guardiola dos comentadores”, acompanho a teoria de Carlos Daniel – que ontem, na RTP, classificou de “anárquica” a tática da Seleção no jogo com os austríacos. Isso permite que este modesto Karadas da escrevinhadura futeboleira, que sou, se contenha ao ponto de não ter de jurar que não deu por tática alguma. Ou, como sei que Fernando Santos é um patriota, admita, com relutância, que tenha passado aos jogadores a célebre tática do seu homónimo, o grande e saudoso Fernando Cabrita: “Rapazes, vamos a eles que nem uns tarzões!”
Não alabou. Não imagino o que Santos disse, mas certo é que nos fomos a eles, austríacos que não jogam a ponta de um chifre, numa noite em que nem a sua estrela Alaba alabou coisa que se visse – e nem uma oportunidade para marcar tiveram, coitados! Vão jogar assim com os islandeses vão, que nada melhor conseguirão do que perder ou empatar, e Viena espera-os, de valsa caída, já na quarta-feira.
Invisuais. Pois é, Portugal carregou-lhe bem, esforçou-se, cresceu muito em relação à partida de estreia, fez mais de 20 remates – já vai em meia centena nos dois primeiros desafios – atirou duas bolas aos ferros e só não ganhou porque lhe faltou a sorte e o Cristiano Ronaldo da primeira metade da época. Tivesse ele concretizado o penálti, e feito o 55.º golo da temporada em 53 jogos, e estaria tudo a embandeirar e a tocar solos de violino. Assim, todos expomos excelsas teorias e eu também fiz o gosto ao dedo, e aos maus fígados, no Twitter, lá encontrando um amplo menu de acusações, que começavam em Cristiano e só não acabavam no selecionador porque pelo meio havia João Moutinho, o bombo da festa – e ontem considerado “The man of the match” porque a UEFA delegou gentilmente a escolha na Associação Recreativa dos Invisuais da Granja.
Fé em Deus. Gosto de Moutinho, que é um homem sempre comprometido, que pode não jogar bem mas também nunca joga mal, sem que se lhe possa chamar Melhoral, mas confesso que não percebi as alterações, confusas e tardias, de mestre Santos, que transformaram uma equipa que já atuava em modo de cada um por si, com o talento à solta que conhecemos, num onze atabalhoado de tudo ao molho e fé em Deus. E prontos, ficamos por aqui que vou acabar de ouvir o nosso Guardiola caseiro, a ver se aprendo mais qualquer coisinha.
Contracrónica, Record, 19JUN16
A Seleção dos tarzões sem sorte
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