Passei anos da minha vida a caminhar para os tribunais por causa de um processo movido por José Roquette a João Rocha, na sequência de declarações polémicas do ora desaparecido antigo presidente a Record.
Estavam arroladas dezenas de testemunhas, convocadas “às pazadas” para o mesmo dia e hora, e uma vez atrás de outra dispensadas sem serem ouvidas e novamente convocadas – sempre sob a ameaça de pesadas multas, e até de detenção, por eventual não comparência – numa triste e repetida demonstração de desrespeito pelas pessoas e do ponto a que chegou a justiça em Portugal.
Já nessa altura João Rocha não dispunha de condições de saúde para se deslocar à Cidade Judiciária e a interrogação que se me colocava, na penosa espera pela chamada das testemunhas e marcação do próximo pesadelo, era: o que levará os homens, depois de velhos, a manterem – e talvez mesmo a apurarem – a obsessão litigante, o espírito persecutório com que arrastam os próprios amigos para testemunhas de casos espúrios que raramente resultam em alguma coisa?
O processo, de tanto adiamento, transformou-se numa aberração e num ato de violência psicológica tão insuportável que a pressão sobre os ex-presidentes desavindos levou ao arquivamento do processo, talvez por acordo, mas seguramente por José Roquette ter enfim compreendido que nada daquilo fazia sentido.
Recordo essa gesta grotesca ainda sobre a emoção da morte daquele que foi, para mim, o maior presidente da história do Sporting – pese o respeito que me merecem quase todos os que lhe sucederam. E identifico, no exemplo da querela Rocha/Roquette, a raiz do mal que desgraçadamente corrói os alicerces da grandeza leonina: o ódio que todos põe contra todos. Caso encerrado, descanse em paz, presidente.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 9 março 2013