Passei parte da minha vida profissional a ver, com a maior indiferença, é certo, os olhares de desdém que jornalistas que se consideram muito sérios me dedicavam, por trabalhar na imprensa dita desportiva, em revistas cor-de-rosa ou em títulos voltados para a informação mais popular, aquela que os leitores preferem às impenetráveis massas de texto dos jornais que a si próprios se classificam como “de referência”.
Essa pobre nata aponta os que não desempenham a profissão em publicações por si “aprovadas” como jornalistas de segunda, uns mercenários condicionados pelo ato mesquinho de ter, a cada dia 30, o salário na conta bancária. Como se, chegada a hora dos apertos e dos fretes, dos encerramentos e do desemprego, não fôssemos todos filhos do mesmo Deus.
Dei comigo a pensar nisto, na noite de segunda-feira, ao ver José Alberto Carvalho – inocente do preconceito a que me refiro, há que notar – a fazer de saco de boxe de José Sócrates. É fatal como o destino: sempre que o diabo aparece, a vida dói.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 19DEZ15
A noite do diabo de José Alberto Carvalho
A