Desde os anos 50 que o Benfica não tinha, no campeonato, tanta desvantagem em relação ao Sporting. E há duas décadas que não terminava a primeira volta fora dos três lugares cimeiros. Ou seja, o Livro dos Recordes de Jorge Jesus passou a registar máximos negativos. Como gosto do treinador, sofro com ele por isso. Como acho que a bazófia foi demasiada – arrasar, jogar o triplo e etc e tal – tenho de reconhecer que tem o que merece.
Dito isto, calma. Ainda há pouco escrevi aqui que a Juventus tinha a Serie A perdida e já Cristiano e companhia podem ficar a quatro pontos do líder se ganharem o jogo em atraso – permanecendo a questão do título em aberto. É assim o futebol.
Em teoria, a tarefa do Benfica é ciclópica, diria que impossível. Porque não tem só de anular o avanço que lhe leva o Sporting, tem igualmente de recuperar seis pontos ao FC Porto. Mas por um lado a crise benfiquista tem muito a ver com os casos de coronavírus que assolaram o plantel e com o afastamento de Jesus, pelo que só será revertível com talento, humildade e esforço – baste ou não para chegar ao topo da liga. E por outro lado, o percurso dos leões terá forçosamente de encontrar fases de menor rendimento – para as quais Rúben Amorim já alertou – e a trajetória portista também não será fácil: os dragões acusam muito a suicida sobrecarga de jogos e o seu rendimento está longe de ser espantoso.
O pior de tudo, no que respeita ao Benfica, é a ideia de algum desequilíbrio interno, expresso no excesso de protagonismo de Luisão, na errática entrevista de Rui Costa – a um diretor da casa, um passeio –, no silêncio de Vieira, na baixa de rendimento de jogadores nucleares, no “desaparecimento” do Darwin que já valia 150 milhões ou na falta de jeito de João de Deus para comunicar. E, claro, na infindável cáfila de videirinhos enjeitados que mal a coisa descarrila aparecem a verter ódio. Talvez exista instabilidade a mais para que Jesus possa apanhar os cacos, reagrupar forças, partir do zero e voltar a treinar sem ser por telefone ou telepatia – algo que não acontece há demasiadas semanas – regressando do outro mundo para tentar salvar a temporada e a face. Um desafio brutal que se inicia hoje!
Ainda sou do tempo em que a Académica era o segundo clube da maioria dos adeptos que tinham outras preferências. Vi, por isso, com emoção a vitória da Briosa no Estoril, que lhe dá a liderança da 2.ª liga. E a alegria foi maior pelo facto de os dois golos do triunfo – o último sobre a hora, extraordinário – terem sido da autoria de João Traquina, um jogador que passou sem glória pelo Belenenses, em 2015-16, acabando a época emprestado ao Sp. Covilhã, mas que se via possuir um talento em que Sá Pinto não acreditou. Aparece agora, com a braçadeira de capitão, a abraçar o sonho de devolver a Académica aos palcos a que pertence. Chapeau!
Parágrafo final para uma frase simples: se o Sporting for punido, com meio ponto que seja, por causa do “caso Palhinha” é porque os que mandam nisto tudo querem mesmo ser os palhaços do futebol mundial.