Talvez porque a manhã do dia de Ano Novo conte pouco para as audiências, a SIC Notícias transmitiu, ainda íamos no primeiro sono, um programa notável: a gala CNN Heroes, em que a estação norte-americana premiou – com 750 mil dólares, 550 mil euros – as dez personalidades que mais se distinguiram na área da solidariedade e dos projectos sociais em todo o mundo.
O desfile de heróis, que o são de facto, contemplou desde a parteira africana que sozinha – e muitas vezes de noite e sem luz – ajuda a nascer 35 crianças por mês, ao homem que criou uma organização que retira milhões de toneladas de lixo dos rios dos Estados Unidos.
Não temos infelizmente em Portugal, onde gente heróica não falta, quem possa meter ombros a uma tarefa desta envergadura: premiar, com a distinção pública e o apoio material, os que dedicam a vida à causa comum. Mas numa época em que tanto se aplaude a fama mentirosa, confesso que me saltaram as lágrimas ao ver a assistência erguer-se, como uma mola, para prestar tributo, não à imbecilidade, mas à dádiva e à grandeza.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 4JAN14
A mentira da "fama" e a grandeza da dádiva
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