Foi uma noite emocionante aquela que passei a saltar de canal em canal para saber o que os entendidos – e alguns desentendidos – diziam sobre a demissão iminente de Rui Vitória.
Com os olhos postos nos telemóveis, os opinantes em estúdio iam não só dando pistas como sublinhando a segurança das suas fontes, aliás, uma forma reveladora do modo como a comunicação mudou. Claro que depressa dei por mim a imaginar o que aconteceria no centro de comando benfiquista, com os ajudantes de Vieira de olhos no líder e no teclado dos iPhones de serviço. Nada de extraordinário. Afinal, já houve quem o fizesse – partindo com alguma ingenuidade do princípio que ninguém o faz hoje – nas reuniões do Conselho de Ministros.
Mas existia um problema: o presidente do Benfica não convocara todo o estado-maior para a reunião, vagamente magna e de suposta emergência – nem sequer o peso-pesado José Eduardo Moniz – sinal que do ruído produzido pelos inevitáveis extremismos ele tiraria depois as conclusões. Que são, no caso de Luís Filipe Vieira, como no de Pinto da Costa e outros, a expressão exclusiva da sua vontade.
O resto está escrito nos livros: o líder é quem sabe, o líder tem as suas razões, o líder manda. E como passou pela cabeça de alguns desconfiados como eu, a madrugada foi-se e a alvorada mudou a face das coisas: o “demitido” Rui Vitória aguentou-se ao leme com um “sentido abraço” – palavras dele – ao presidente, que o manterá no posto “até final da época” – Vieira dixit – seja isso em maio ou ainda em dezembro, de acordo com a agenda e os interesses do chefe.
A seguir ao KO, há três caminhos para os ajudantes: concordar genuinamente em nome da união familiar e da paz na república, discordar e demitir-se na defesa do direito a pensar pela própria cabeça, ou discordar e fingir concordar para que o pão não falte na mesa e as crianças sejam felizes. É assim a vida, que mais se pode fazer?
E Sérgio Conceição voltou a passar-se dos carretos… todo um clássico! Mas desta vez está tramado, vai ter de pagar alguns 80 euros de multa…
Assinalo um novo recorde de Cristiano Ronaldo na Juventus para reparar, em simultâneo, a deficiente explicação que dei aqui há uma semana: com este décimo golo na liga italiana, CR7 é o primeiro jogador, em 60 anos, a conseguir essa marca, em 14 partidas – logo após a chegada à Juve. O feito repete o do galês John Charles, na época de 1957-58. E a propósito do atual clube de Cristiano: é a única equipa dos cinco maiores campeonatos europeus a manter-se invicta fora de casa ao longo do ano de 2018. Como se não bastasse, é com o avançado português que a Juventus bateu outro recorde, este o de pontos, 40, o máximo alcançado na sua história nas 14 jornadas iniciais do campeonato.
Último parágrafo dedicado à Taça do Mundo de biatlo, que ontem começou na estância de inverno de Pokljuka, na Eslovénia, e pela primeira vez desde 1993 (!) sem a presença de Ole Einar Bjørndalen, a maior figura de todos os tempos da modalidade. Aos 44 anos, o campeão mundial e olímpico norueguês – 13 medalhas só em olimpíadas – abandonou a atividade e a sua saída do circuito levou igualmente à partida da mulher, a bielorussa Darya Domracheva, de 32 anos, também ela campeã mundial e olímpica – seis medalhas nos Jogos – que alegou querer dedicar-se à filha de ambos, Xenia, de dois anos. E sem Bjørndalen e Domracheva na pista, são menos umas horas a ver televisão. É o tempo, sempre ele, a impor a lei.
Outra vez segunda-feira, Record, 3DEZ18
A manhã em que se viu quem manda no Benfica
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