Na jornada em que, com exibições consistentes, o FC Porto continuou a ultrapassar problemas recentes e o Benfica mostrou já ter esquecido Enzo Pérez, o Sporting respondeu com o seu melhor desempenho dos últimos tempos, uma segunda parte de luxo contra o Rio Ave. E só uma superequipa leonina poderia ontem ter vencido os vilacondenses, um conjunto estruturado, sólido, bem dirigido e com um punhado de executantes que prometem largos voos.
A lição a tirar da atitude dos leões – feita de talento e velocidade, alegria e determinação – é a de que há tempestades que alcançam o que a bonança não permite. E se já aqui salientei o bom senso de Bruno de Carvalho ao impor a paz intramuros, quero hoje salientar a inteligência de Marco Silva, que aproveitou a força proporcionada pela solidariedade de jogadores e adeptos para apurar também os seus próprios conceitos.
Teria o “outro” Marco, o “antigo”, optado por Tobias Figueiredo em detrimento de Sarr? Teria dado tantas oportunidades a Tanaka? Ter-se-ia decidido já pela qualidade de Gauld? E por aí fora. Sair de momentos difíceis, reflectir e conseguir ficar mais forte é percorrer o caminho da sabedoria.
Deixo o parágrafo final para a cerimónia de entrega da Bola de Ouro e para a deceção que sofri – eu e seguramente muitos mais espectadores – com a vulgaridade de gente tão importante. Desde as “trombas” de Henry, que não disfarçou a incomodidade depois de ter expressado a sua preferência por Messi, ao discurso do premiado, que na hora em que ficou por cima foi incapaz de saudar os outros nomeados, a falta de grandeza foi chocante. Nem numa altura em que o Mundo atravessa uma fase tão perigosa, os multimilionários da bola se dedicam ao exercício do exemplo e da generosidade. É a inteligência a sair derrotada.
Canto direto, Record, 19JAN15
A inteligência não é para todos
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