Só com um sorriso se pode olhar a incoerência dos arautos do pagamento das dívidas assumidas por Portugal com os credores – princípio que não me merece dúvidas – e que não respeitam os compromissos do Estado com os cidadãos, preferindo o corte de salários, pensões e prestações sociais ao aumento dos impostos necessários à satisfação dos direitos contratados com as pessoas.
São esses porta-vozes da desesperança que se erguem agora contra uma contrapartida inteligente do Governo ao alívio da austeridade: a de taxar com (mais) 6 ou 7 cêntimos por litro os combustíveis, aproveitando o facto de o crude estar hoje, nos mercados internacionais, a menos 100 (!) dólares por barril do que há uns anos e prometer continuar a valores muito baixos pelo menos este ano.
Quando o preço do gasóleo, por exemplo, custava mais 30 cêntimos por litro do que se verifica nesta altura, quem precisa do carro para trabalhar, continuou, nem tinha outro remédio. Agora, perante a perspectiva de vir a pagar mais 6-cêntimos-6, abonados e necessitados agitam nas televisões a bandeira da desgraça. Ele é o fecho de empresas, o bloqueio da economia, a viatura parada à porta, o diabo. Somos incorrigíveis, vivemos na ilusão de uma aurora: a do dia em que tudo seja de borla.
Observador, Sábado, 12FEV16