Alexandre Pais

A estupidez dos olés em Alvalade

A

Compreendo a deceção verde e branca: o Sporting fez mais para ganhar o jogo que o Benfica, parecia tê-lo conseguido tão perto do fim da partida que a vitória era certa, e depois aconteceu futebol – e os encarnados empataram.
Desde que o Belenenses perdeu o campeonato, em 1955, muito por causa dos foguetes lançados antes do apito final, que desconcentraram os jogadores azuis – e motivaram os leões, que chegaram ao empate e “deram” o título ao Benfica –, habituei-me a não confiar na volatilidade do marcador. E custa-me, por isso, aceitar a estupidez dos “olés” que se ouviram após o golo de Jefferson, pois essa euforia extemporânea passa sempre para dentro do campo, ajuda o adversário a não atirar a toalha e, pior ainda, no caso de Alvalade, desperta os velhos fantasmas dos golos dos últimos minutos, de que os anos recentes carregam exemplos – alguns trágicos, se bem me recordo.
Pormenores à parte, vejo o resultado como positivo para um Benfica pouco disposto a arriscar e que escapou à pena correspondente porque os deuses sabem que estão em falta com Jorge Jesus. Mas também positivo para o Sporting, que matou vários coelhos de uma cajadada: confirmou, com um rival cujo plantel se considera “de luxo”, a capacidade dos seus “dentes de leite”, recebeu a que pode ter sido a definitiva lição de que a concentração é para manter até ao fim e viu-se livre de um delírio que ameaçava voltar a pressionar com a ilusão do título – e não é o tempo.
Assim, Marco Silva e o seu grupo podem dedicar-se melhor ao que deve ser o grande objetivo para esta época: reforçar e consolidar a equipa. A reformulação do centro da defesa e a recuperação plena do enorme talento de Montero, por exemplo, são sinais de que o crescimento está aí e de que esse é o caminho. Agora, basta percorrê-lo.
Canto direto, Record, 9FEV15

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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