Alexandre Pais

A época 2012/13 de A a Z

A

A de AROUCA, FUTEBOL CLUBE. Excelente campeonato da 2.ª Liga fez o Arouca, que acabou segundo e sobe com isso, e pela primeira vez, ao escalão principal. Mérito dos jogadores, obviamente, em especial do goleador Joeano, o melhor marcador da competição, com 26 golos, mais sete que Ricardo Esgaio, do Sporting B. Também da direção que constituiu um grupo coeso, mas principalmente de um grande treinador, Vítor Oliveira, uma “velha raposa”, com nove (!) subidas de divisão, seis delas à liga maior. Notável trabalho, sem dúvida.

B de BRUNO DE CARVALHO. Dois anos depois de ter perdido umas eleições em que já recolhera a preferência do maior número de votantes, mas ainda não de votos, chegou à presidência de um Sporting corroído por guerras intestinas e mergulhado em profunda crise desportiva e financeira. Ainda jovem, trouxe aos leões uma mensagem de esperança e começou da maneira certa: com objetividade e poder de decisão. As suas “conferências de imprensa”, com claques, são a única mancha nos dois meses que leva na liderança de um clube que passou a falar a uma só voz.

C de COSTA, PINTO DA. Está tudo dito sobre a imparável soma de êxitos deste “dinossauro” do FC Porto e do futebol, que conquistou – sim, mais do que a sua estrutura, jogadores ou técnicos, foi ele quem conquistou – sete campeonatos nos últimos oito anos, 14 nos últimos 20. Já nos seus 31 anos de presidência o total é mais modesto: “apenas” 57 títulos… E o maior problema para os “sulistas e elitistas” do pontapé na bola é que Pinto da Costa promete continuar a liderar a caravela portista, ou seja, vai ser uma chatice…

D de “Der”, MITCHELL VAN DER GAAG. Holandês de “inspiração atlântica”, com breve mas bem sucedida experiência no Marítimo também como treinador, Van der Gaag “pegou de estaca” no Belenenses e trouxe os azuis de regresso à 1.ª Liga, conquistando o título do segundo escalão com 21 (!) pontos de avanço. A chave para o sucesso obteve-a o técnico quando conseguiu manter a equipa unida após a goleada (6-0) no Estádio da Luz – uma tarefa para homens de barba rija.

E de EXTRAORDINÁRIO, o que Rui Vitória conseguiu no V. Guimarães. Num clube antes com mercenários a mais e dinheiro a menos para lhes pagar os salários, o treinador foi a grande alavanca da direção para inverter a situação. Com jogadores jovens, alguns oriundos da equipa B, o treinador não só reentrou, na Liga, na luta pelos lugares de acesso às competições europeias, como acabou por se classificar para a fase de grupos da Liga Europa, com a conquista da Taça de Portugal frente a um Benfica claramente favorito. De Fátima à Europa, num TGV de alta competência: grande Rui!

F de FONSECA, PAULO. Começou como “Paulo quê?” e com muita gente a torcer o nariz à capacidade deste ex-jogador do Belenenses – um golo marcado na vitória (2-1) sobre o Benfica, na Luz, em 1997, calcule-se! – para assegurar a manutenção do Paços de Ferreira na 1.ª Liga. Afinal, ainda há dois anos treinava o Pinhalnovense… A verdade é que o salto que Paulo Fonseca deu na sua carreira foi extraordinário, conseguindo: 3.º lugar no campeonato, acesso ao playoff da Champions – com participação garantida na fase de grupos da Liga Europa – e, em 30 jogos, apenas 4 derrotas… com os dois primeiros. Muito bom.

G de GOLOS. Nos 667 apontados na 1.ª Liga, o destaque vai para os 12 jogadores que marcaram por 10 ou mais vezes e, naturalmente, para o portista Jackson Martínez, finalmente o sucessor que Falcão merecia e que foi o melhor desta época, com 26 golos. A seguir ao colombiano ficou o benfiquista Lima, com 20, mais cinco que o colega de equipa Cardozo. Edinho, com 13, foi o melhor português, com Steven Vitória a concretizar por 11 ocasiões, o que é fantástico para um central.

H de HORA RECORD. Helton e Hélder Postiga merecem uma referência pelas excelentes épocas que fizeram, um a defender, o outro a marcar. Mas quero aproveitar para salientar o lançamento da CM TV e da Hora Record – a participação do nosso jornal na nova estação da Cofina. O programa, que dispõe de mais de 20 especialistas de Record para comentários em estúdio, é diariamente produzido por uma dezena de jovens jornalistas. Eles juntam, ao talento, uma imensa capacidade de trabalho e um entusiasmo invulgar. Chapeau!

I de INÁCIO, AUGUSTO. Foi corajoso por ter assumido o comando técnico do “aflito” Moreirense, mas viu-se envolvido em polémica por já depois de se saber que iria ser o diretor do futebol de Bruno de Carvalho ter aparecido, em Alvalade, à frente dos homens de Moreira de Cónegos para tentar derrotar… o Sporting. Portou-se então como um profissional, mas a aventura a Norte acabou mal e Inácio iniciou a sua nova vida nos leões não como um vencedor mas como mais um funcionário. E não faltará quem o responsabilize pela saída de Jesualdo… Não terá vida fácil.

J de JORGE JESUS. Fez um trabalho admirável no Benfica que, com ele, recuperou graus de exigência competitiva há muito perdidos. Na sua melhor época nos encarnados, foi às finais da Liga Europa e da Taça de Portugal, disputou o campeonato até à última jornada e só falhou a final da Taça da Liga na lotaria dos penáltis. Aliás, perdeu a liga europeia e a liga portuguesa noutra “lotaria”, a dos descontos: numa cabeçada em “slow motion” de Ivanovic, aos 90+3, e num remate “maluco” de Kelvin, aos 90+2. Um “galo” assim não tem repetição possível.

K de KELVIN. Nem de propósito… Se não tivesse já cometido proezas semelhantes, apontando golos decisivos, dir-se-ia que o pontapé instintivo, fulminante e decisivo, que levou à vitória do FC Porto sobre o Benfica, no Dragão, nos derradeiros instantes da partida, fora obra do acaso. Como não foi a primeira vez, aguardam-se os capítulos seguintes para se tirarem de vez as dúvidas: irá este “K” portista ser um génio do futebol ou não passará de um tipo habilidoso com vocação para fazer umas coisinhas?

L de LUÍS FILIPE VIEIRA. A conquista da Liga teria sido fundamental para um clube com uma dívida elevada e que tem feito fortes investimentos. À inegável capacidade de liderança do seu presidente, ao bom futebol da equipa e à abundância de adeptos e de entusiasmo – fenómeno raro num país onde faltam os clientes e sobra a depressão –, os encarnados precisam de juntar o cimento que só o título pode proporcionar. Mas apenas repetindo a qualidade desta época o poderão conseguir. O azar não há de estar sempre atrás da porta.

M de MOURINHO, JOSÉ. Não chegou o campeonato dos 100 pontos e dos 121 golos, nem a Taça do Rei, nem a Supertaça, nem as três meias-finais consecutivas da Champions, nem o equilíbrio nos duelos com o Barça, nem o desgaste que conduziu ao afastamento de Guardiola. As “vacas sagradas” do Real, as de dentro e as de fora do balneário, e os jornalistas, com acesso barrado às áreas técnicas do “seu” clube, acabaram por levar, num jogo sujo, à partida de Madrid do melhor treinador do Mundo. Mas a sua história continua, basta esperar.

N de NUNO ESPÍRITO SANTO. Com as baterias genericamente apontadas para Vítor Pereira, Marco Silva, Paulo Fonseca ou Jesualdo Ferreira, passou quase despercebida a excelente temporada do Rio Ave, também ele dirigido por um treinador da nova geração, este com a marca do FC Porto na ourela. A Europa falhou por pouco, mas o 6.º lugar dos vila-condenses, o segundo melhor de sempre e que relegou o Sporting para a 7.ª posição, dá à estreia do técnico santomense um sabor muito especial.

O de OUTRA VEZ. Quando parece que já está tudo feito, que já se conquistou o que se podia, que a vida já nos deu o que havia para nós, eis que aparece mais qualquer coisa. E que coisa, Jupp Heynckes! O ex-técnico de Mönchengladbach, de 68 anos, que já treinou o Benfica, antes de meter os papéis para a reforma (quando?) ganhou, com o Bayern, o Campeonato e a Champions – depois da “nona”, com o Real Madrid, em 1998 – e promete ainda vencer a Taça da Alemanha. Pep Guardiola, o seu substituto em Munique, não poderá fazer melhor.

P de PAULO BENTO. Ano difícil para o selecionador, o que passou, com este a revelar-se também bastante complicado. Os jogadores vivem os seus problemas e os dos seus clubes, e chegam à Seleção a precisar de um “psicólogo” que os oiça e lhes dê ânimo. Se a forma não se foi, a coisa vai, mas em final de época, com quase tudo “partido”, como juntar os cacos e apresentar uma equipa competitiva? Sendo esta a questão que sempre se coloca, calcula-se o peso suportado pelos ombros de Paulo Bento nestes dias antes do jogo decisivo com a Rússia, que não podia chegar em pior altura… Selecionador sofre.

Q de QUARTO LUGAR. Foi o melhor que conseguiu o Sporting de Braga, na Liga, e o melhor que consentiu a tradicional “má estrela” de José Peseiro, um treinador cujos resultados teimam em não corresponder à indiscutível qualidade do seu trabalho. A verdade é que a equipa se qualificou para a final da Taça da Liga, depois de afastar o Benfica, e conquistou o troféu ganhando (1-0) ao campeão FC Porto, o que não pode deixar de se considerar um sucesso. E mesmo o 4.º lugar seria uma boa posição se António Salvador não tivesse a ambição de voos mais altos. E para isso faz Jesualdo voltar a casa…

R de RONALDO, CRISTIANO. Se não jogar no sábado a derradeira partida da Liga espanhola, que será o seu 200.º jogo oficial com a camisola do Real Madrid, fechará esta época com 55 golos em outros tantos desafios pelos merengues, ao serviço dos quais já soma 202 remates vitoriosos – o total nas quatro temporadas de blanco. Realizou assim nova época em cheio, recusando, ao mesmo tempo, integrar qualquer dos grupos de egos de um balneário minado. Esperemos agora tê-lo ao seu nível contra a Rússia. Porque de contrário… 

S de SILVA, MARCO. Treinador antivedeta, pouco dado a dizer disparates, a criticar os maus do costume, os árbitros, e a arranjar desculpas quando perde, fez um excelentíssimo trabalho à frente do Estoril, obtendo o 5.º lugar e a consequente qualificação para a 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa – só falhou a fase de grupos por “culpa” da derrota do Benfica na Taça. Mais do que isso, valorizou os seus jogadores, havendo hoje quatro, pelo menos, na órbita dos grandes. Com um orçamento 14 vezes inferior ao do Sporting, fazer o que ele fez é obra. Veremos agora qual será o próximo desafio e até onde poderá ir.

T de TONI. De uma geração de luxo de técnicos portugueses, de que fazem parte Manuel José, Artur Jorge ou Jesualdo Ferreira, todos nascidos em 1946, Toni regressou há pouco de mais uma épica jornada além-fronteiras, desta vez no Irão, ficando na história do Tractor – e no YouTube – algumas conferências de imprensa verdadeiramente antológicas. O espírito aberto, direto, expressivo e bem-humorado do treinador – igualmente um ótimo comunicador – fazem dele um caso ímpar e uma das maiores figuras de sempre do futebol português.

U de ÚNICO. Nunca será de mais salientar a qualidade profissional de um mestre: Jesualdo Ferreira. Os seus êxitos como treinador, também importantes, não ultrapassam, no entanto, nem os méritos pessoais, nem uma maneira muito própria de estar no futebol – sendo sempre ele, antes de qualquer cargo ou sejam quais forem as circunstâncias. O seu trabalho no Sporting, cujo futebol estava à deriva até ele arrumar a casa e as ideias, e recuperar psicologicamente os jogadores, é apenas mais uma demonstração do que vale. E em Alvalade não faltarão saudades.

A época 2112/2013 de A a Z, publicado na edição impressa de Record de 29 maio 2013

de VÍTOR PEREIRA. Época quase inacreditável a deste técnico “low profile”. Inacreditável não por falta de capacidade, mas porque resistiu a tudo: a um período de resultados menos bons, às críticas da rapaziada do costume, ao desprezo de uma certa “corporação” que não reconhece adjuntos e menos ainda adjuntos de adjuntos, e até aos assobios dos próprios adeptos, que mais tarde o ovacionaram. Resistiu e acreditou no seu trabalho e no da notável estrutura portista. 
E depois de ganhar a Supertaça, foi campeão sobre a meta. Que grande final!V de VÍTOR PEREIRA. Época quase inacreditável a deste técnico “low profile”. Inacreditável não por falta de capacidade, mas porque resistiu a tudo: a um período de resultados menos bons, às críticas da rapaziada do costume, ao desprezo de uma certa “corporação” que não reconhece adjuntos e menos ainda adjuntos de adjuntos, e até aos assobios dos próprios adeptos, que mais tarde o ovacionaram. Resistiu e acreditou no seu trabalho e no da notável estrutura portista. E depois de ganhar a Supertaça, foi campeão sobre a meta. Que grande final!W de Williams. O brasileiro, de 31 anos, esta época ao serviço do Feirense, pode ter-se feito expulsar num jogo da última temporada, quando atuava na Naval, favorecendo eventualmente com isso o adversário dos figueirenses – o Moreirense, que viria a subir de divisão. Tudo não passa de uma acusação, pelo que não se deve seguir a crença, tantas vezes perversa, de que não há fumo sem fogo. Num país onde se condenam pessoas na praça pública, o que se deseja é que o lateral seja ilibado porque nada tenha feito de reprovável.X de XADREZ. Muitos anos depois, fez-se justiça ao Boavista, que ficou assim com as portas abertas para regressar em breve à liga principal, o campeonato a que pertence. Sendo um dos cinco emblemas que já foi campeão nacional de futebol no primeiro nível, será com prazer que veremos as camisolas axadrezadas do velho clube do Bessa de volta aos grandes palcos. Nesta hora de alegria e expectativa, quero saudar o presidente João Loureiro, pelo que sofreu em silêncio, e o ex-líder Álvaro Braga Júnior, pela determinação e coragem com que Z de ZANGADO, comigo próprio, por não ter conseguido incluir nas 24 letras anteriores todos os nomes que mereciam destaque. Casos, pela positiva, de Paulo Alves, que deixa o Gil Vicente depois de ter conseguido evitar a descida; de Pedro Proença, que assinou mais uma época de alto nível; de João Moutinho, essa “maçã podre” que foi, afinal, um belo negócio para FC Porto, Sporting e… Portimonense; ou dos portugueses Bruno Gama e Pizzi, que estão à beira de salvar o Deportivo da descida. Pela negativa, gostaria de ter referido outro árbitro, João Capela, cujo (péssimo) trabalho no último dérbi não esqueceremos tão cedo. E ainda, neste cantinho que me resta, lembrar as feias atitudes de Nélson Oliveira, na Corunha, e de Cardozo, no Jamor. A primeira, sinal de imaturidade, já a outra…

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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