Alguém me disse um dia que os jogadores são como os passarinhos, se não os seguramos com força suficiente fogem, se os apertamos demasiado morrem.
José Mourinho sabe-o como ninguém e depois de mais uma esforçada mas desluzida exibição de Fábio Coentrão saltou de imediato em defesa do seu jogador, que não é propriamente conhecido pela sua força mental. O técnico merengue tem, aliás, a qualidade de dar com uma mão o que tira com a outra, ou seja, exige tudo aos futebolistas e ampara-os depois se as coisas não saíram como se esperava.
Aliás, cada homem é um caso. Cristiano Ronaldo, por exemplo, que não precisa de psicólogos porque é tão forte física como mentalmente, potencia as suas capacidades com pílulas de confiança e de carinho. Tem de sentir que gostam dele para atingir o patamar lá de cima.
Curiosamente, foi um ex-discípulo de Mourinho, André Villas-Boas, quem não entendeu essa lição – dada por quem ele julgava nada ter já para lhe ensinar… – e conseguiu, em meia dúzia de meses em Stamford Bridge, irritar tanto as flores de estufa do Chelsea que as obrigou a queimá-lo antes que se fizesse tarde.
A carreira dos “blues” desde o despedimento do nosso aprendiz de feiticeiro, e que culminou agora com o imerecido mas meritório triunfo sobre o Barcelona, é de tal modo extraordinária, que confirma – sobrepondo-se aos defensores da profundidade da ciência futebolística – que os artistas são as verdadeiras alavancas do jogo e quem, de facto, condiciona o seu destino.
Em Alvalade, Ricardo Sá Pinto, outro homem da casa, em boa hora chamado a repetir a feliz experiência de Paulo Bento, consegue ter êxito precisamente porque entende a cabeça dos jogadores e é capaz de os motivar. Contra o Athletic, o Sporting atuou “à Chelsea”, não no autocarro, mas na atitude, no talento, no sacrifício. E se dá para o Barça, dá para todos – é fórmula única.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 21 abril 2012