Não sou daqueles que fogem a enfrentar a realidade e se recusam a admitir que Portugal está melhor do que há quatro anos. Basta um facto que ninguém conseguiu refutar para reconhecer o milagre: em 2011, as reservas financeiras do Estado estavam no fim e Sócrates avançou para o resgate porque daí a dois ou três meses não haveria dinheiro para pagar salários e pensões.
Pior seria impossível. E estando hoje o Estado em condições de honrar os seus compromissos e de se financiar no mercado, negar a evidência não me parece sério.
Coisa bem diferente é reduzir o problema às finanças públicas e não querer compreender que o País são as pessoas e que estas se encontram numa situação bem mais dramática do que há quatro anos. Porque foi à custa do seu empobrecimento e da degradação das suas condições de vida que o Estado se pode agora apresentar aos credores e que Dona Maria Luís, como aconteceu a Vítor Gaspar, verá a sua vida ir de vento em popa mal se veja livre da enorme chatice que são os portugueses.
Negócios arruinados, famílias falidas, casas entregues aos bancos, desemprego, caos na justiça, crianças sem aulas, mortes nas urgências e um sentimento colectivo de vergonha, revolta e impotência – eis o rasto parcial de destruição que o resgate deixou por aí. Pagámos o preço inevitável? Essa é a questão que divide hoje o País e à qual, em breve, o sucesso ou o insucesso do Syriza dará resposta.
Observador, Sábado, 5MAR15
A destruição da nossa economia era inevitável?
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