Alexandre Pais

A cena com o FC Porto em Vila do Conde foi medonha

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O exagero na vassalagem aos adeptos, a quem tudo se foi permitindo, iniciou o percurso sinuoso que conduziu à estupidez de Alcochete. Em Vila do Conde, na habitual saudação de final de jogo, a cena de jogadores e técnicos do FC Porto, à frente da bancada, a serem insultados, ameaçados e humilhados pela turba ensandecida, foi medonha. Herrera, Militão e outros devem estar a contar os dias que lhes faltam para se verem livres daquele pesadelo…
Fernando Madureira pode ter na mão a chave do dilema. Ou segue a loucura semelhante à dos que lideraram as burrices em Alvalade e o crescendo da contestação acabará por engoli-lo, ou trava a espiral intimidatória e coloca a sua claque no registo certo: entusiasmo e paixão, sim, mas só enquanto a bola não arrefece. A seguir, bandeiras enroladas a dar espaço à reflexão e à correção do que houver a corrigir por quem tem essa competência. Terá ele, na vertigem da preparação para o duelo corpo a corpo – contra quem e para quê? – a capacidade de distinguir o momento em que a decisão correta é a de ir jantar a casa?
Com o triunfo concludente na Pedreira, o Benfica tem praticamente o título na sua história. E Bruno Lage é o grande responsável por um magnífico dois em um: equipa competitiva e valorização acelerada dos talentos da academia. Chapeau!
Está a ser doloroso o final de campeonato do Belenenses SAD, que soma resultados negativos e vê em sério risco o sétimo lugar. É o desânimo natural a atingir os profissionais de um entreposto de jogadores, uma turma mal-amada e sem identidade que disputa todas as partidas como visitante. E que não merece a provação por que passa.
A propósito: no lance do primeiro golo do Aves deu a ideia de ter havido fora de jogo. Também o golo inicial do Sporting surgiu na sequência de um derrube claro de Acuña a um adversário. E quanto ao penálti por falta sobre João Félix, não sei, não. Se foi para isto que se criou o VAR, parabéns, podemos limpar as mãos à parede.
Os jornalistas e comentadores descobrem, de vez em quando, um “guarda-redes do futuro”. Fizeram-no, em 2015, com Joel Pereira, que começou a presente época em Setúbal, cedido pelo Manchester United, e foi dispensado, em janeiro, ao modesto Cortrique belga. Caso semelhante é o de André Moreira, contratado ao Ribeirão pelo Atlético de Madrid, em 2014. Emprestado a vários emblemas pelos espanhóis, jogou pouco mais de 30 vezes nas derradeiras cinco épocas e é hoje o suplente de Caio Secco na baliza do despromovido Feirense. Aos 23 anos, mais um do que Joel Pereira, estará André a tempo de arrepiar caminho? Oxalá.
Simpatia pela figura não tenho nenhuma, mas neste estrondoso êxito do futsal leonino não haverá algum mérito a atribuir ao visionário? Na crítica, somos insuperáveis, já no reconhecimento, a memória esvai-se por completo.
O último parágrafo vai para o que parece ser o fim de uma era no ténis. O russo Daniil Medvedev, de 23 anos, e o austríaco Dominic Thiem, de 25, disputaram ontem a final do open de Barcelona, ganha pelo segundo, que na véspera tinha afastado, nas meias-finais, o “rei da terra batida”, Rafa Nadal. Medvedev eliminara uma semana antes, nos quartos de final do Masters 1000 de Monte Carlo, o líder do ranking mundial, o sérvio Novak Djokovic. Roland Garros aproxima-se: afirmar-se-á num grande torneio a “next generation” ou será ainda o “big three” a prolongar a sua lenda?
Outra vez segunda-feira, Record, 29abr19

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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