Não sei porque se agitaram tantas suscetibilidades a propósito do último dislate de Dijsselbloem, um clássico inimigo de Portugal e de qualquer política que não aplique a mais selvagem das austeridades. Do PR à Superbock, passando por milhares de merecidos e imerecidos insultos nas redes sociais – a sua derrota nas eleições holandesas também não se terá dado por acaso – o socialista rendido ao neoliberalismo teve a resposta devida, faltando apenas vê-lo fora da presidência do Eurogrupo.
Escrito isto, não me juntarei ao coro que zurze à outrance o fiel escudeiro de Schäuble. Fico a meio caminho entre a indignação quase geral e o isolado elogio de Jaime Gama ao troglodita. Porque ele errou na forma mas tem razão no conteúdo. Apesar do desempenho de Costa e Centeno, que vai adiando os problemas, em Portugal não há coragem para fazer as reformas estruturais e aposta-se apenas numa retoma económica visionária e na bondade de uma opinião pública prisioneira.
Certo é que não tendo gasto tudo em copos e mulheres, mas a subsidiar a pobreza e a parasitagem, deixámos que uma cáfila roubasse os bancos para enriquecer os amigos, continuando uma e outros, impunes, a rir-se na cara dos palermas dos credores. Era por aí que Dijsselbloem devia ter ido.
Observador, Sábado, 30MAR17