Alexandre Pais

Renato Sanchez e o fantasma de Fernando Santos

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A fé de Fernando Santos é mesmo para levar a sério. Portugal voltou a jogar para empatar e acabou dominado pela superior qualidade da Croácia – com Vida a errar de cabeça por centímetros e com Kalinic (ou Perisic?) a atirar ao poste… Mas eis se não quando um quarteto de génios da bola resolve a passagem aos “quartos”, fugindo a uma maléfica recordação que nada prometia de venturoso: a da eliminação, por penáltis, aos pés da Espanha, em 2012, embora desta vez João Moutinho e Bruno Alves não estivessem em campo com os seus pés frios. Aliás, também aí se viu a fé do selecionador, que substituiu Adrien perto do fim, uma decisão só possível de ser tomada por quem sabia que não haveria grandes penalidades.
Surpresa. Acusado de ser conservador, mestre Santos começou por surpreender-nos, pela positiva, por ter, enfim, dado a oportunidade, que meio país reclamava, a Adrien – para mim, com Pepe, o melhor dos nossos –, por ter feito descansar Vieirinha e por ter poupado o desgastado Ricardo Carvalho, tanto mais que com Pepe “amarelado” corríamos o risco de ficar sem os centrais titulares na quinta-feira. E fez igualmente bem o selecionador ao reservar Quaresma para o que viesse, embora se duvide que sonhasse que viria a ser do cigano de ouro o golo da vitória. Seria premonição a mais.
Saloio. Vale a pena recordar o lance decisivo, que se iniciou em Renato Sanchez – sim, hoje vai Sanchez, deixem-me também ser saloio. O novo médio do Bayern, que joga para frente, avançou no terreno, arriscou – falhando o tempo do passe para Cristiano – e meteu em Nani, que cruzou milimetricamente para CR7 rematar, e Subasic defender para a cabeça de Quaresma, que estava no sítio certo e não por acaso. Quem louva a qualidade dos tecnicistas croatas que veja e reveja esta jogada e confirme que o golo só aconteceu pelo altíssimo nível dos quatro artistas portugueses.
Fantasma. Mas há um mistério que Fernando Santos alimenta e que paira como um fantasma sobre o desafio com a Polónia: a insistência em deixar no banco Renato Sanchez – que em dois confrontos consecutivos entrou e modificou para infinitamente melhor o nosso jogo – e sair de início com um André Gomes fisicamente nas lonas. E isso é um fantasma porquê? Porque a um fulano que vê o futebol como nos tempos das Salésias vêm à cabeça coisas destas: nova aposta em André Gomes, em Marselha, e Moutinho outra vez. Não abuses da sorte, Fernando.
Contracrónica, Record, 26JUN16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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