A Priberam – especialista na concepção e desenvolvimento de software nas áreas de tecnologias linguísticas, de bases de dados jurídicas e da saúde – solicitou ao diretor de Record, o primeiro jornal português a adotar o novo Acordo Ortográfico, em Janeiro de 2009, que respondesse a algumas questões. Aí ficam.
– Quais as principais razões para o Record adoptar o AO?
– A principal razão é essencialmente pragmática. O Acordo foi longamente debatido por linguistas e negociadores, aprovado pela Assembleia da República e ratificado pela Presidência. Se se tratava de uma medida irrevogável, para quê protelar a sua entrada em vigor?
– Qual foi a reação inicial dos leitores?
– De um modo geral, foi boa. A exceção esteve nos céticos de hoje, que são os de sempre. Gostariam que a Terra não se movesse, todavia, ela move-se.
– Com o decorrer do tempo houve alguma alteração à reação inicial por parte dos leitores?
– A aceitação tornou-se quase total, tendo em conta que, quem não gosta do Acordo terá deixado de gostar de ler o Record. Voltarão um dia, quando Roma acabar por tragar Astérix.
– Em caso de dúvidas relativamente às alterações do AO, quais as ferramentas e obras de referência que utilizam para as esclarecer?
– As dúvidas têm sido imensas, mas temos mais cinco anos para nos adaptarmos. Apoiamo-nos numa obra simples, “Atual, o novo acordo ortográfico – o que vai mudar na grafia do português”, de João Malaca Casteleiro e Pedro Dinis Correia, da Texto Editores, que foi distribuída na redação, e num clássico, o dicionário atualizado da Porto Editora, com o qual trabalha a Revisão sempre que, por qualquer motivo, não utiliza o FLiP. Tenho ainda, na minha secretária, um minidicionário Michaellis, editado no Brasil, e que constitui um auxiliar precioso.
– Em que medida o FLiP auxilia a redação das notícias?
– É uma ferramenta fundamental a que recorrem todos os jornalistas e revisores que, ao contrário do diretor, já se libertaram completamente do suporte em papel. Se andássemos todos a folhear o dicionário, o jornal não estaria a imprimir à hora certa.
– Houve vozes contestatárias entre os redatores relativamente à adoção do AO?
– Terá havido, mas com tão pouca convicção que não as conseguimos ouvir. Aliás, no Record, temos um princípio de ouro que funciona para o Acordo e para o resto: contesta quem quer, decide quem deve e o barco continua no rumo que traçámos. Não poderia ser de outra maneira.