Alexandre Pais

50 anos de carreira (algumas notas)

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“A COISA MAIS IMPORTANTE DA VIDA É NUNCA DEIXARMOS DE NOS QUESTIONAR” – ALBERT EINSTEIN

2013
O reencontro

A anterior direção de Record (2003/2013), integrada por mim e pelos jornalistas António Magalhães, Nuno Farinha e Bernardo Ribeiro, voltou a reunir-se, agora para um almoço de Natal em que pudemos, mais do que recordar os dez anos em que trabalhámos juntos e os problemas pessoais e profissionais que por vezes nos afastaram, e que são passado, consolidar uma relação que tem os olhos postos no futuro. Confrontámo-nos com o desaparecimento de uma filha de Artur Jorge, de 22 anos (!), tragicamente falecida na madrugada de Natal e que na altura em que almoçávamos ia a enterrar. E os quatro enviámos, de longe embora, um apertado e sentido abraço ao Artur. Para ele, como para nós, a vida continua. Mesmo!
2014
O esquecimento
Quem procurar a coleção do “Diário de Lisboa” no site da Fundação Mário Soares – www.fmsoares.pt – encontrará trabalhos de nomes maiores do jornalismo português. Ainda há algumas semanas, após a morte de Mário Coluna, pude reler a reportagem de Neves de Sousa, “Coluna: cicatriz aberta”, publicada na edição de domingo, 23 de Julho de 1972. Em quatro páginas, o grande jornalista, um dos maiores repórteres portugueses de sempre, dava conta não da existência gloriosa de uma figura incontornável do Benfica e da Seleção Nacional – “magriço” da gesta de 1966 – mas de um homem desiludido e amargurado, que depois de muitos anos de vida regrada e de poupanças se encontrava na miséria. Habitava então um modesto apartamento da Rua da Bélgica, em Vila Franca de Xira, e estava desempregado – o clube que treinara, o Estrela de Portalegre, descera de divisão. Coluna tinha medalhas e condecorações numa caixa de sapatos, na testa uma enorme ferida que não sarava e no quarto, triste e envergonhada, a mulher, que ele acusava de o ter metido em negócios ruinosos. A exigir-lhe dinheiro, segundo revelava ao repórter, andava outro “magriço”, Hilário, que Coluna desancava na reportagem de Neves de Sousa. Ele dizia falar também em nome de colegas como Lourenço, Figueiredo ou Pedro Gomes, enquanto os processos judiciais corriam e o “monstro sagrado” jurava nada ter recebido desses “credores”. Em 1970, aos 35 anos, Coluna desistira de integrar a equipa técnica do Benfica para jogar uma época no Olympique de Lyon, França, por 15 contos/mês. Nesse ano, o clube da Luz fez-lhe uma festa de despedida, cuja receita serviu apenas para pagar dívidas. Coluna estava num beco sem saída. Vinham aí os anos do esquecimento. E a espiral de solidão e abandono que se seguiu só terminaria quando Moçambique o fez voltar a casa – para ser ministro do Desporto e presidente da Federação de futebol – devolvendo-lhe a honra e a dignidade com que pôde viver até ao fim.
2014
O professor
Há oito meses, quando deixei a direção de Record, recebi um telefonema de apoio e incitamento que não esquecerei. Do outro lado, estava alguém que nunca conheci pessoalmente e que teve a generosidade de ser meu leitor e a gentileza de me dar uma palavra na hora em que minha vida mudou. Medeiros Ferreira, precisamente. Não lhe pude dizer, então, como me emocionei há quase 40 anos, num  comício do PS, no Pavilhão Carlos Lopes, com o discurso vibrante e apaixonado que proferiu e que arrebatou o recinto, cheio como um ovo. Recorro ao texto de Santana Lopes, publicado no Negócios e dedicado à personalidade do professor, político e comunicador que deixou o País mais pobre, e que termina assim: “José Medeiros Ferreira vai ser sempre lembrado, principalmente por aqueles, como eu, que o admiram”. Como nós. E como muitos mais.
2013
A despedida
Fechado o meu ciclo de 10 anos, quatro meses e 27 dias à frente de Record, aqui revelo 31 testemunhos, palavras de generosidade, amizade, gratidão e grandeza de jornalistas e colunistas que, naturalmente, não identifico para evitar constrangimentos.
1. Entrei no Record para um estágio de três meses. Senti que era a hora de mostrar que tenho valor para estar onde estou. Senti confiança para agarrar a oportunidade e no final fui recompensado. E é aí que aparece o “obrigado”. A si. Por ter acreditado que dali, daquele miúdo, poderiam vir coisas boas para o Record. Não sei que tipo de feedback lhe chegou, mas uma coisa lhe posso garantir: o máximo esteve sempre presente. Na minha humilde família sempre me ensinaram a lutar pelos objetivos e principalmente a agradecer. E é para isso mesmo que este email serve. Para lhe agradecer a oportunidade. Não serve para engraxar ou qualquer coisa do género. Nada disso. Nunca fui “puxa saco”. Serve, sim, como reconhecimento por me ter dado a oportunidade. E para além de nunca querer desiludir os meus pais e espero nunca o fazer, agora ficarei com a responsabilidade de não desiludir um grande senhor do Jornalismo português: Alexandre Pais. Pessoa que li, e muito, muitas vezes antes de chegar ao Record. Por tudo isto, um muito obrigado, diretor.
2. Quero dar-lhe um abraço agradecido de forma menos desajeitada do que há dias. A estabilidade que o Diretor conseguiu manter no nosso jornal permitiu que, pela minha parte, realizasse alguns sonhos e projetos pessoais e familiares. Agradeço-lhe, também por isso, a confiança profissional que depositou em todos nós, e que me esforço por não defraudar. Orgulho-me destes nossos anos no Record, pois ajudam-me a ser melhor como homem, como pessoa entre pessoas. Com a sua ajuda, Diretor, tive sempre motivos para nunca deixar de sorrir e, com o seu exemplo, continuo a aprender que só com trabalho de qualidade e com valores sólidos nos dignificamos como seres humanos ativos nesta sociedade tão mesquinha. Estive sempre atento à pessoa (e também fui lendo os artigos no Record, na Sábado e no CM, através da “Quinta do Careca”. Sempre encontramos nas palavras algo da alma de quem as escreve, não é assim?). Espero poder estar à altura dos exemplos que do meu Diretor recebi nestes anos. Não podia deixar de sublinhar a honra que sinto por servir os leitores sob a sua Direção. Espero que o futuro lhe sorria sempre. A vida é cheia de boas surpresas e será sempre feliz o momento em que nos encontrarmos. Os anos de aprendizagem e de trabalho que já vivi em equipa no nosso Record, nunca os esquecerei. Estamos juntos!
3. Caro diretor, na hora da despedida – a minha também chegará, não sei é quando… -, apenas gostaria de lhe agradecer a confiança e o reconhecimento que teve pelo meu trabalho. Nunca concordei com tudo da linha editorial que impôs, mas aprendi ao longo de mais de 30 anos de carreira a respeitar quem pensa pela sua cabeça e quem ousa. Como aconteceu nestes dez anos de Record. O meu obrigado por tudo e votos de muitas felicidades. Estarei sempre à disposição.
4. Compreendo esta coisa dos ciclos, mas custa-me vê-lo partir, habituado como estava a sabê-lo à frente deste Record ressuscitado. Desejo-lhe toda a saúde e bem estar nesta nova fase e como o Alexandre não é pessoa de se deixar ficar, ainda se calhar nos cruzaremos, era bom sinal.
5. A vida continua e fica sempre alguma coisa. Da minha parte, uma que sobrou: este caríssimo diretor raramente “se” elogiou (não me lembro disso, pelo menos…), mas sempre reconheceu os erros dele e assumiu até os de outros. Este é o meu aplauso. O que fica… No resto, siga para a frente e a aproveitar todos os momentos. Carpe Diem, caríssimo Alexandre.
6. Os poucos meses que trabalhámos juntos deixaram em mim uma impressão profunda. Só tenho que lhe agradecer todo o apoio e colaboração. Sei que parte da empresa um homem de carácter, e isso, hoje em dia, não pode ser menosprezado por ninguém. Um abraço.
7. Meu caro Diretor, nunca gostei de despedidas e já aprendi que se tiver uma boa oportunidade para fugir a esses momentos difíceis, o melhor é aproveitar. Vai aqui este texto simples e, pronto!, já está. (…) Havia mais, no entanto: competência, saber acumulado, empenho, ideias, motivação, inquietação e…  resultados. Não tive dúvidas que o Record – este Record – ainda estaria para durar. (…) E pensei: “Era a melhor coisa que me podia acontecer. Estava a precisar de aprender, outra vez, e vim parar ao sítio certo.” Era importante voltar a ter uma referência, um farol. Alguém com capacidade e autoridade para ensinar. Como se lidera, como se gere, como se faz. Não me enganei. Foi isso que vim encontrar no Record. Gostei mesmo muito trabalhar consigo. E não faço distinções no tempo, entre momentos bons, maus ou assim-assim. Junto tudo. E analiso. E gosto. Não me arrependo de nada. (…) O trabalho feito – parecendo pouco – é notável. Em circunstâncias dificílimas. (…) Não me custa nada dispensar-lhe tantos elogios, agora, na hora de despedida. Não espero nada em troca. (…) Meu caro Diretor, obrigado por tudo! Muitas felicidades.
8. Alexandre, muito obrigado pela camaradagem, profissionalismo e total apoio que sempre senti da tua parte. Atravessamos momentos difíceis que, paradoxalmente, revelam o melhor e o pior das organizações e das pessoas que nelas trabalham. Em que o sentimento de justiça escasseia cada vez mais. Grande abraço, muito obrigado e até já.
9. Também nestes momentos se mostra carácter e força. Quem me conhece sabe que não sou de elogios fáceis. Não cheguei a conhecê-lo bem, mas tenho-o como um jornalista, um gestor e um homem de grande valor, lutando sempre contra as adversidades com clareza de espírito e mente aberta. E procurando sempre fazer melhor. Assim continuará a ser – no Record ou noutro universo. Desejo-lhe um caminho pouco pedregoso e cheio daquela felicidade e paz de espírito que os Grandes percorrem. Um grande abraço.
10. Caro Alexandre, gostava de lhe deixar alguns agradecimentos. Obrigado pelo conhecimento que partilhou comigo nestes anos, que fez com que conhecesse ainda melhor a realidade de um jornal. Obrigado pelo seu rigor que fez com que eu melhorasse a minha forma de trabalhar. Quero ainda congratulá-lo pela forma como sempre motivou a sua equipa em todos os projetos que fizemos em conjunto. Mesmo os mais complexos foram sempre concretizados com o mesmo ânimo e vontade de os realizar, mesmo eu sabendo que, na maioria das vezes, estavam a trabalhar, como se diz na gíria, “com o pelo do cão”, por falta de meios. Desejo-lhe o maior sucesso no novo ciclo e deixo-lhe um até já.
11. Diretor, estes 10 anos foram para mim extraordinários. (…) pelo trabalho que desenvolvemos em conjunto e que nos fez sentir sempre que o empenho e o esforço valem a pena. Obrigada pelas oportunidades que me deu.
12. É com muita pena que te vejo “partir”, foi para mim um enorme prazer trabalhar contigo. Aprendi muito, foste dos melhores profissionais com quem trabalhei, um profissional que sempre defendeu o seu titulo, que nunca virou as costas a qualquer desafio, mesmo que fosse muito penoso. Foste um verdadeiro PROFESSOR, obrigado! Obrigado pelo que me ensinaste, obrigado pelo tempo que me “dedicaste”, obrigado. Grande abraço.
13. Diretor, da minha parte, um agradecimento pessoal pelas oportunidades que me foi dando, pela confiança depositada nas minhas “capacidades”. (…) Que agora descanse deste “manicómio” como muitas vezes apelidou esta casa e que bons ventos continuem a soprar na sua vida.
14. Neste momento, em que faltam poucos dias para seguir um novo rumo, quero apenas dirigir-lhe umas palavras, pois foi uma pessoa muito importante na minha carreira. Foi graças à oportunidade que me deu que consegui vingar neste mundo “cruel” que é o jornalismo. E por isso fica aqui o meu agradecimento. Espero que o futuro lhe traga o que mais deseja, nomeadamente mais sossego… Vou sentir muito a sua falta e é isso que gostava que soubesse. Tudo de bom para si!
15. Caro diretor, começo pelo agradecimento inevitável. Não sei o que lhe possa ter despertado o interesse para me convidar para escrever no jornal, mas resta-me apenas agradecer as oportunidades que me foi dando ao longo deste tempo. Cresci, ganhei maturidade e aprendi muito no jornal. Ao longo destes anos pensei por várias vezes abandonar o projeto e, se não o fiz, foi por sentir que lhe devia algo, que devia mostrar que não apostou em mim em vão e que devia lutar para conquistar o meu lugar dentro do Record. Ainda sou jovem e não percebi se consegui atingir o objetivo, mas garanto-lhe que dei sempre o meu melhor e continuarei a dar e a lembrar-me daquilo que me transmitiu. Desafiou-me e eu adoro que me desafiem. Tenho pena que abandone o jornal e que não me possa desafiar mais vezes. E também tenho pena de não ter partilhado mais alguns momentos da minha curta carreira consigo. Admiro-o, muito, por tudo o que o vi fazer ao longo deste tempo. Cometeu erros, como todos cometemos, mas não será facilmente esquecido porque deixou claramente a sua marca. O jornal ganhou muito com a sua liderança e eu ganhei a vida porque apostou em mim. Muito obrigada por tudo.
16. Quero agradecer-lhe o que fez por mim. Nem sempre concordámos mas partilhámos o desejo de fazer o melhor. Desejo-lhe felicidades. Viva com gosto, um abraço.
17. Caro Alexandre, deixe-me apenas dizer-lhe o seguinte: tenho muito orgulho e admiração por si e garanto-lhe que nestes anos a minha melhor recordação foi ter privado com alguém como o Alexandre, homem com rosto e honra, coisa que infelizmente não abunda. Forte abraço.
18. És o melhor diretor que a Cofina seguramente terá. Ficaremos mais pobres. Muito orgulho em trabalhar contigo!
19. Diretor, um grande abraço, com muito respeito.
20. Estou longe mas não poderia deixar passar a oportunidade de lhe agradecer a franqueza com que sempre me tratou. Recordo-me de um episódio bastante particular: depois de uma “confusão” em contas de apuramento, chamou-me para falar consigo e lembrou-me que o rigor deve andar de sempre de braço dado com um jornalista. Nunca mais esqueci essas palavras e acredite: daí em diante, tornei-me um melhor profissional. Senti-me na obrigação de lhe escrever este pequeno texto porque foi o diretor quem me deu a oportunidade de estar onde estou hoje: na minha cadeira de sonho. Muito obrigado por isso. Desejo-lhe as melhores felicidades e, com toda a sinceridade, é com bastante tristeza que o vejo partir.
21. Obrigado pelo que fez por mim e por todos nós. Grande abraço.
22. Após ter sido comunicado oficialmente que hoje seria o seu último dia, queria expressar-lhe um abraço solidário de amizade e de profundo reconhecimento profissional por ter passado aqui 13 anos sempre a aprender, a melhorar, e a tentar fazer o melhor possível sob a sua direção. Sinto-me um profissional mais rico em termos profissionais. Um valente abraço e com toda a certeza que nos veremos por aí durante semanas, meses e anos. Muito obrigado!
23. (…) Dez anos é muito tempo. É mais de um terço da vida que aqui deixo quase todos os dias. Uns melhores, outros piores, como tudo. Apreciei alguns momentos da “linha dura” que sempre defendeu, detestei outros, discordei de muitas coisas, concordei com outras. Apreciei essencialmente a defesa que sempre fez do jornal, mesmo se essa defesa incluiu factos que nunca subscreveria. Mas cada um de nós tem como ideal um jornal diferente. (…) O tempo é o que é, as circunstâncias também, e por isso queria apenas terminar dizendo que continuarei a tratá-lo por Director sempre e quando nos cruzarmos.
24. Caro Diretor, já que estamos em tempo de registar por escrito o que nos vai na alma nestes dez anos em que o tivemos como diretor no Record, permita-me o desabafo: o mais importante na vida consiste em sobreviver um dia e outro dia. Uma tarefa que tanto pode ser simples como apresentar-se extremamente difícil. Tudo depende do modo como a encaramos. O que lhe quero dizer, no fundo, é que a minha vida profissional foi uma vida feliz, melhor, muito feliz, nestes dez anos em que o tive ao meu lado, dispensando-me de qualificar, por agora, cada gesto seu, cada palavra e cada atitude suas, o seu exemplo, enfim, que deixam marcas para todo o sempre; o Record sem o nosso diretor será com certeza um Record diferente e, muito sinceramente, diretor, sei, porque me conheço, que não voltarei a ser tão feliz como fui. Está a ver como a vida, a vida profissional, se pode apresentar, assim de repente e sem aviso prévio, extremamente difícil?! Desculpe o desabafo, o acento tónico no ‘eu’, quando no fundo só quero agradecer tudo o que fez por mim. E, acredite-me, nunca ninguém me deu tanto e tão bom nestes muitos anos que levo como jornalista profissional.
25. Quero agradecer-lhe por me ter dado a oportunidade de ser jornalista e a confiança que sempre depositou em mim. Com essa confiança vieram as responsabilidades e com elas descobri que tinha qualidades que nunca imaginei que tivesse. Desejo-lhe tudo de bom para o que vier a seguir!
26. Talvez nos encontremos de novo. Bem haja!
27. Diretor, apesar de não ter tido oportunidade para o fazer pessoalmente, não poderia deixar de, nesta hora de despedida, lhe agradecer profundamente a oportunidade que me concedeu de poder permanecer no Record após o meu estágio curricular. Possivelmente, terei sido o último elemento a entrar nesta instituição pelas suas mãos e isso é um enorme motivo de orgulho. Independentemente do futuro, ficarei eternamente grato pelo voto de confiança e pela possibilidade de iniciar a minha carreira de jornalista numa instituição grandiosa como é o Record. Desejo-lhe as melhores felicidades. Muito obrigado.
28. Não se lembra de mim, e é natural, mas ajudou-me como ninguém na minha vida profissional. Se não fosse o estágio de três meses (mais outros três meses a recibos verdes) que me concedeu em 2008, sem ter nenhum motivo para tal, tenho plena confiança que hoje não estaria onde estou, nem seria o profissional que sou. Se hoje em dia sou jornalista – e sou – é porque o diretor me deu a oportunidade que mais ninguém me dava na altura. É, por isso, com tristeza que o vejo deixar o Record. Mas também é por isso que nunca o esquecerei. Na altura agradeci-lhe a experiência que me proporcionou, mas agora, passados quase cinco anos (foram os últimos seis meses de 2008), reconheço ainda mais a influência que teve na minha vida. Até a frustrada entrevista à Sábado (por ignorância e inexperiência minha) me serviu de lição. Foi outro gesto do diretor que me deixou boquiaberto – a recomendação. Falhei, é certo, mas com esse grande erro também aprendi muito. Nas entrevistas seguintes, tudo foi diferente para melhor, muito melhor. É verdade que não me esqueço de quem me ajudou a formar e dar os primeiros passos neste mundo (todos os editores e jornalistas do Record Online, claro), mas não foram eles que apostaram em mim. Foi o diretor. Não me conhecia (nem me conhece), mas isso pouco me interessa. Não brilhei e não sou, ainda, o jornalista que quero ser, mas cresço e amadureço todos os dias sabendo que tudo começou com o “seu” pontapé de saída na minha carreira. E por isso só lhe posso estar grato. Obrigado. Queria também desejar-lhe as maiores felicidades para o futuro que, tenho a certeza, será risonho.
29. Alexandre, por tudo o que aprendi contigo ao longo de muitos anos, pela capacidade que me deste de olhar a realidade, pela sensibilidade e sabedoria, obrigada. Ficamos mais pobres, chefe Alex, mas tu vais estar aí, para pôr os “pontos todos nos is” sempre que precisarmos. Um grande beijo da eterna “aluna”.
30. Caro Diretor, antes de mais quero pedir-lhe desculpa por lhe “falar” por aqui e não “face to face” mas, vá-se lá saber porquê, ainda sou demasiado acanhada em algumas situações. Queria apenas, já com alguns dias de atraso, agradecer-lhe por me ter dado uma oportunidade de ser jornalista e a confiança que sempre depositou em mim. Com essa confiança vieram as responsabilidades e com as responsabilidades descobri que tinha qualidades que nunca em tempo algum imaginei que tivesse. E acredite, para alguém da minha geração, habituada à ladainha pessimista de que somos mimados, privilegiados e impreparados, é um alívio descobrir que somos úteis e que podemos de alguma forma contribuir para um projeto. Tudo de bom para o que vier a seguir e, mais uma vez, mil perdões pela “intromissão” via online.
31. Um beijinho diretor, até amanhã.
2014
A contratação
Desde março que a Cofina tentava contratar Paulo Futre, para a CM TV e para os jornais do grupo, e eu tinha combinado com o Luís Santana que ele escreveria uma página semanal no Record. Conseguiu finalmente convencê-lo a administração, no início deste ano, embora na sua despedida de A Bola o ex-craque tenha deixado um sinal a ter em conta. “Até breve”, disse ele. Veremos quanto tempo se aguenta na sua nova colaboração, já que mantém, fora dos campos, a característica principal da sua carreira de futebolista: a inconstância. O Paulo é daquelas pessoas que facilmente se entusiasma com os projetos e que depressa também se farta deles.
2003
A peregrinação
Quando cheguei ao Record e reformulei a lista de colaboradores, o António Magalhães apresentou duas propostas com assinaturas de peso: Paulo Sousa e Paulo Futre. O primeiro cedo avançou com uma crónica semanal – de péssima memória e de que tratarei a seguir – e o segundo marcou uma reunião connosco, para a qual convocámos a administração da Cofina, pois os valores envolvidos, sabia-se, não seriam baixos. No dia aprazado, Paulo Futre apareceu de fato e gravata, e a falar “espanholês, acompanhado de cinco ou seis (!) assessores, quase todos espanhóis. Na sala do 5.º andar, do edifício do Correio da Manhã da Av. João Crisóstomo, parecia estar reunido, tal era o formalismo à volta da mesa, o Conselho de Estado! A ideia era interessante, mas cedo compreendemos ser inexequível, já que implicava uma verdadeira peregrinação pela Europa fora – e de várias pessoas, claro – para entrevistar as grandes figuras do futebol internacional, um projeto caríssimo e que não garantia retorno a curto prazo. A proposta morreu ali e Futre “desapareceu” da atualidade nacional até à célebre conferência de imprensa em que inventou os “charters” carregados de chineses e lançou assim as bases de uma carreira para a qual tem, igualmente, inegável talento: a de comunicador.
2003
O sinal
Na tentativa de relançar uma carreira praticamente acabada, Ricardo Quaresma regressou no início de 2014 ao futebol português e ao FC Porto, clube que tinha adquirido o seu passe ao Barcelona, por 6 milhões de euros, em 2004, e que o vendera depois ao Inter de Milão, por 18,6 milhões mais o passe de Pelé, em 2008. Recordo o que sucedeu em 2003, quando Bernardo Ribeiro, então chefe de redação do Record, me pediu o carro – um Mercedes que eu comprara ao eng. Torres Marques na altura em que ele deixou a presidência da Expo 98 – para ir ao Estádio de Alvalade buscar Quaresma, então com 20 anos e a caminho de Barcelona, para a sessão fotográfica e a entrevista que combinara connosco. O jogador pura e simplesmente não apareceu no local combinado, nem atendeu o telemóvel, num sinal já revelador do modo como viria a gerir a sua carreira no estrangeiro. O Bernardo, claro, chegou à redação irritadíssimo.
1977
A prateleira
Daniel Proença de Carvalho, diretor do Jornal Novo, nomeou Duarte Figueiredo, subchefe de redação como eu, para chefe de redação, função antes desempenhada por Torquato da Luz – que por sua vez sucedera a José Sasportes. Eram os tempos da minha militância no PS – que só terminaria em 1990, após a reeleição de Mário Soares como Presidente da República – pelo que, num jantar no restaurante Número Um, e sabendo que a orientação do vespertino, de apoio ao PSD, se intensificaria, manifestei ao diretor a minha discordância com a escolha, que considerava injusta, até por não reconhecer ao nomeado competência para o cargo. Recebi, então, uma lição sobre o significado da palavra “justiça”, que muito me ajudaria no futuro. E como não quis colaborar com Duarte Figueiredo, rapidamente fui “emprateleirado”. Meses depois, com a saída de Proença de Carvalho, substituído por Helena Roseta, pedi à nova diretora que me recebesse para se tentar desbloquear a situação. Mas nessa altura Helena era furiosamente anti-PS e nunca aceitou sequer falar comigo. Estive quase dois anos a receber sem trabalhar – e ganhava bem para a época, 20 mil escudos mensais – e, ao deixar o jornal, só consegui fazer o acerto de contas aceitando letras bancárias. Quando o Jornal Novo deixou de se publicar e nasceu A Tarde, em 1979, já eu tinha recebido tudo o que me era devido, graças ao chefe da secção de Pessoal, Moreira Rato, que contra ventos e marés honrou a palavra dada.
1977
A tentativa
Durante o período da “prateleira” no Jornal Novo fiz duas tentativas para mudar de jornal: uma para o Diário de Notícias e outra para A Luta. A primeira esteve praticamente consumada, a segunda foi caricata… por motivos que um dia contarei.
2013
O legado
Para não perder o brilho e a fama de líder que teve, a gerência de A Bola especializou-se numa arte que vem igualmente de tempos idos: esconder resultados. Trata-se do único diário que não se deixa auditar pela Associação Portuguesa para o Controlo das Tiragens (APCT) e que fecha também a sete chaves os seus resultados financeiros anuais. Como não consegue evitar que quem trabalha na empresa impressora revele as tiragens, vai-se sabendo que imprime cerca de 20 mil exemplares/dia menos que o Record, concorrente para o qual perdeu em 2013 – como em 2003 – ainda em número de leitores, segundo o Bareme da Marktest. Mas não há mal que se não acabe e fonte bancária acaba de me fazer chegar o resultado do exercício de 2012 do jornal da Travessa da Queimada: perto de 1 milhão de euros de EBITDA negativo, só com o jornal porque com a televisão o prejuízo agrava-se! Como o Record alcançou, no mesmo ano de 2012, mais de 3 milhões de EBITDA positivo, razão tinha o jornalista João Querido Manha, atual diretor de Record, quando há pouco tempo reconheceu, em entrevista ao Briefing, que a anterior direção do desportivo da Cofina lhe deixou “um bom legado”. Foi só uma diferença de 4 milhões de euros/ano na gestão dos dois títulos, nada de mais.
1964
O contratado
A duas semanas de partir para Gerona, Espanha, a fim de participar nos Jogos da FISEC, integrando a Seleção Nacional de juniores de voleibol – treinada por essa grande figura da modalidade que foi o prof. Nuno Barros – senti o apelo de continuar a minha experiência na escrita, iniciada em jornais de parede na Escola Salesiana de St. António, no Estoril, em 1961. Resolvi, então, enviar uma carta às direções dos três “desportivos” da altura – A Bola, Record e Mundo Desportivo – com a oferta dos meus serviços. Só obtive uma resposta, a do trissemanário Mundo Desportivo, com o convite para passar pela Avenida da Liberdade e falar com o chefe de redação, José Valente, com qual combinei a entrega de duas reportagens após o regresso a Lisboa. O primeiro texto foi publicado na edição de 17 de agosto de 1964 e fazer esse “contrato” foi, talvez, a primeira grande emoção da minha vida.
1965
O despedido

Em Fevereiro de 1965, o Benfica eliminou da Taça dos Clubes Campeões Europeus o Real Madrid, batido na Luz por 5-1, com golos de Eusébio (2), José Augusto, Simões e Coluna. Na edição seguinte, o Mundo Desportivo saiu para as bancas com a seguinte manchete: “O Vale dos Caídos mudou-se para Lisboa”. E a crónica do jogo começava assim: “Não foi realmente a batalha de Aljubarrota. Nem tão pouco a de Valverde, ou qualquer outra em que os espanhóis e os portugueses tivessem escrito páginas gloriosas da sua história. Mas foi bonito assistir-se à vitória do futebol do Benfica sobre o do Real Madrid.” Só que do lado de lá da fronteira o regime de Franco considerou a manchete do jornal português uma afronta e do lado de cá o governo de Salazar de imediato a lavou. O Mundo Desportivo esteve uma semana suspenso e o seu chefe de redação, José Valente, foi despedido. Isso tocou-me bastante, não só pela violência da medida como pelo facto de ter sido José Valente a “contratar-me”, no verão de 1964, para fazer a reportagem dos Jogos da FISEC com que me iniciei na profissão. Quando o jornal regressou às bancas, o comunicado da ENP, também proprietária do Diário de Notícias, não podia ser mais cínico: “A Empresa Nacional de Publicidade e o diretor do Mundo Desportivo lamentam e repudiam as expressões contidas numa crónica inserida neste jornal e que muito feriram a sensibilidade dos seus leitores. Ao autor da referida crónica, chefe de redação do Mundo Desportivo, único e total responsável pelo escrito que veio a público, foram aplicadas as sanções que o caso requeria”.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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