Dizem os sábios que os problemas são a resolução dos problemas, mas haverá sempre quem prefira atirá-los para debaixo do tapete e quem vier depois que se amanhe. Também está nos livros.
A Seleção, que ontem se apurou para mais um Europeu, por exemplo, não é um problema. Continua a jogar pouco – e a jogar ainda menos se tivermos em conta a excelência da maioria dos seus jogadores – sem que isso a impeça de ganhar e de cumprir objetivos. Pretender mais é querer a Lua, não vale a pena. Se fomos campeões europeus e vencemos a Liga das Nações assim, vamos pôr-nos com considerações filosófico-futebolísticas para quê?
O Cristiano Ronaldo que ajudou, e de que maneira, a equipa que Ricardo Ornelas um dia designou como “de todos nós” a qualificar-se, esse sim, é que enfrenta um duplo escolho: tem uma lesão que o diminui e não a debela por lhe exigirem, e ele aceitar, jogar, jogar, jogar. Em Itália, como em boa hora explicou, é o Inter a ameaça porque segue a Juventus a dois pontos, e na Seleção era o apuramento que estava em causa. Sim, mas então e o atleta? Sarri sabe do seu problema e utiliza-o como titular – e quase até ao final das duas últimas partidas? Fernando Santos diz que Cristiano está bem – não existe comunicação entre os médicos da Juve e da FPF? –, tão bem que em dois desafios permanece em campo 83 minutos num e 90 e tal no outro? E o capitão da Seleção, que inteligentemente, tanto com Zidane como com Allegri – e com o próprio Fernando Santos – geriu a sua condição física com sucesso nas derradeiras temporadas, despreza desta forma os sinais de um corpo próximo de completar 35 anos? Para mais, pretendendo prolongar a sua atividade, como revelou, até aos 40? A ânsia por bater recordes vale o risco? E, ao que me explica quem percebe disso, com uma lesão num joelho nada fácil de debelar…
A exigível resolução do problema está nas mãos de Maurizio Sarri, que não se distingue pela disponibilidade para conversas. Cristiano faz-lhe falta no campeonato – e o treinador sabe que se não for campeão é despedido – mas será seguramente mais decisivo na Liga dos Campeões, que a Juve se limita a “cheirar” há demasiado tempo. Daí que ou o técnico traça, com os médicos e com o jogador, um plano que permita ao homem decisivo chegar a fevereiro nas melhores condições para competir lá onde mais dói, ou corre o risco de falhar no Calcio e na Champions. E Cristiano que se cuide: tratar-se a sério terá de ser hoje o objetivo que na verdade importa. E que ele merece. Clubes há muitos, CR7 é que só temos um.
O último parágrafo vai para uma mão amiga. A que me ofereceu a edição em papel do “L’Équipe” que dedica capa e 17 (!) páginas a um sumptuoso trabalho que recorda a vida, e honra a memória, de Raymond Poulidor, há dias desaparecido. O “eterno segundo” (e terceiro) do Tour e não só fez parte dos meus verdes anos. Fica em paz, Poupou!
Outra vez segunda-feira, Record, 18nov19