A propósito do 86.º aniversário de Maria de Lourdes Modesto – ícone da culinária e da televisão portuguesa dos anos 50 e 60 – assinalado há dias pela RTP, recordei o breve contacto que mantivemos, promovido por Maria Leonor. E reparei que em mais de 100 páginas desta secção da SÁBADO ainda não me tinha referido a uma das maiores profissionais, para não dizer a maior, com quem tive o privilégio de colaborar em meio século de carreira.
Maria Leonor era terrível e por vezes mesmo intratável quando chegava a hora de trabalhar. Perfecionista, exigia aos outros o que impunha a si própria. Mas tinha na outra face da moeda o rosto, terno, amigo e empenhado, de uma mãe protectora que a todos acudia. Ajudou-me quando a irreverência ameaçava deixar-me sem emprego, quando estive no serviço militar, quando decidiu – sim, ela decidia o que eu e os meus companheiros da Emissora Nacional podíamos fazer – que, sendo alto, eu devia tentar ser manequim (foto em baixo). E proporcionou-me, com isso e com o resto, momentos de crescimento e afirmação que permanecem.
Trabalhei também, entre 1968 e 1974, com o seu ex-marido, Pedro Moutinho, voz de ouro e outra figura extraordinária. Era um salazarista que lia, fielmente e nos intervalos das notícias, o Canal da crítica, de Mário Castrim, no Diário de Lisboa, um jornal de esquerda. Não sou saudosista, mas profissionais desta estirpe, lamento, já não temos.
O dia em que conheci Maria de Lourdes Modesto e disse adeus à Fima-Lever
Em 1968, irritada por eu só trabalhar seis horas por dia na Emissora, Maria Leonor mandou-me ir falar com a sua amiga Maria de Lourdes Modesto, muito popular pelo programa de culinária que apresentava, desde 1958, na RTP, e quadro superior da Fima-Lever. Mas para ter lugar numa grande empresa como aquela eu precisava de estar disponível a tempo inteiro, explicou-me Maria de Lourdes, pelo que a boa intenção de Maria Leonor ficou por aí. Recuperei a conversa de há 48 anos, nas Amoreiras, há dias, quando a RTP voltou a fazer brilhar uma estrela (fotos acima).
Parece que foi ontem, Sábado, 30JUN16
Maria Leonor, a mulher que faltava aqui
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