Muitos daqueles que detestam Cristiano Ronaldo odeiam por pura inveja – do protagonismo, do dinheiro e do sucesso com as mulheres. Relembro hoje o fenómeno semelhante, de há 50 anos, quando António Calvário estava no auge da sua fama e arrastava atrás de si multidões de teenagers excitadas. O que isso me irritava e irritava os meus amigos!
É difícil para os menos velhos compreender o pequeno mundo português da década de 60 e a popularidade do homem, de 77 anos, rosto tratado e cabelo pintado, que há dias esteve com Maria Helena Martins no programa A vida nas cartas, da SIC, para saber o que lhe reservava o futuro. António Calvário está preocupado porque 2016 trará o fim da revista Mais riso é que é preciso!, o espectáculo itinerante de elenco modesto e cujo cartaz encabeça.
O ex-Rei da Rádio – atropelado pela canção de intervenção dos anos 70 – reconheceu que tem sofrido muito e repetiu à taróloga o desejo, já manifestado em 2007, na entrevista a Ana Sofia Fonseca, para a SÁBADO: gostaria que o convidassem para uma novela ou uma série de TV, experiência que diz faltar a um artista que cantou por inúmeros países, fez teatro e cinema, trabalhou em circos, foi empresário – e foi burlado.
Calvário terá uma reforma pequena, resultante de anos de facilidades, de que não é culpado, mas a ideia que nos deixa é que não consegue enfrentar o dia, que nunca falha, em que é preciso saber viver de outra maneira. Nostálgica dos momentos de glória, a lenda da canção só admite um rumo: não parar. E não morrer sem entrar numa novela.
Parece que foi ontem, Sábado, 17DEZ15
O calvário de não se poder (nem saber) parar
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