Alexandre Pais

Otto Glória, o visionário que não devia ter voltado

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Após a recente triunfo (0-3) dos leões no terreno dos velhos rivais, o jornalista Vítor Almeida Gonçalves lembrou, no Record, que Jorge Jesus se tornou “no primeiro e único treinador do Sporting, desde Otto Glória, a ganhar no regresso ao Estádio da Luz depois de ter orientado o Benfica”. Isso aconteceu há 50 anos, a 17 de Outubro de 1965, num jogo que o clube de Alvalade venceu (2-4).
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O êxito de Jorge Jesus no recente dérbi da Luz permitiu recordar o grande treinador que foi Otto Glória
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Seu Otto, numa entrevista a Ilídio Trindade, para o Off-Side, em 1982
Hoje, o nome de Otto Glória diz pouco às novas gerações, mas a verdade é que se tratou de um técnico revolucionário que, ao treinar os trêsgrandes, entre 1954 e 1970, e também o Belenenses e a famosa Selecção Nacional que ficou em 3.º lugar no Mundial de 1966  – deixou marcas profundas no futebol português. Foi ele o visionário da primeira grande modernização, com o recurso a novos métodos de trabalho, à adopção de regras profissionais e à introdução do sistema 4-2-4. Em  momentos menos bons, seu Otto recorreu a frases que fizeram história, desde a impossibilidade de fazer omeletas sem ovos ao facto de o mesmo treinador, que era bestial quando ganhava, passar a besta assim que perdia.
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Na década e meia em que brilhou em Portugal, foi campeão quatro vezes pelo Benfica e duas pelo Sporting – a meias com Juca – e conquistou várias taças de Portugal, uma delas pelo Belenenses, em 1960, com o escriba bem atrás da baliza a ver Matateu fazer, com o pé direito, o remate para a vitória dos azuis (2-1) sobre o Sporting.
Em 1970, aos 53 anos, Otto Glória regressou ao Brasil, deixando em Portugal tamanha fama – só não tivera sucesso no FC Porto, em 1964-65 – que seria convidado a regressar, em 1982, então para seleccionador nacional – com os Magriços, em 1966, ele tinha sido apenas treinador.
Mas o futebol e as circunstâncias tinham mudado e o tempo do velho técnico passara. Após uma primeira época de qualificação para o Europeu de 1984, com um empate e três derrotas – uma delas uma goleada (5-0) frente à União Soviética – em sete jogos, Otto Glória voltaria para o Brasil, e lá morreria em 1986, aos 69 anos. Ficou por cá a sua lenda.
Parece que foi ontem, Sábado, 5NOV15
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Na capa da revista Flama, quando foi para o FC Porto, em 1964
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Em 1983, o escritor Fernando Namora, entrevistado por Mário Fernando, criticava o infeliz regresso do treinador brasileiro
Por Alexandre Pais
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