“A dor de partir não é nada em comparação com a alegria do reencontro” – Charles Dickens, romancista inglês, 1812-1870
Conforme vou envelhecendo, pago o pesado preço de ver partir muitos daqueles de que mais gosto. Perdi a conta a amigos de quem não me despedi, a cumplicidades que não recuperei, a almoços que acabam adiados como se houvesse sempre amanhã, a abraços que gostaria de voltar a dar, sabendo fortes as probabilidades de que isso nunca venha a suceder. Sobram as desculpas, da falta de tempo à relha teoria de que a vida afasta as pessoas. Tudo conversa.
Há um quarto de século, num jantar no Bar Bairro Alto, conheci o Manuel Luís Goucha, que já então se dividia pela televisão e pelos livros de culinária, actividade em que o icónico Em Banho-Manel o lançara em definitivo. Estabelecemos desde esse encontro uma forte empatia, alargámos o convívio àqueles com quem vivíamos e, em 1991, fomos, com a Fátima Raposo, a Malta e à Sicília, numa viagem inesquecível. Depois, cá está, a vida profissional afastou-nos, ainda que continuássemos a seguir os nossos percursos, ele por amizade e eu porque, sendo impossível não lhe acompanhar o êxito, nunca esqueci a sua personalidade avançada e frontal, a sua cultura e o seu humor, e esse raro dom numa figura pública, e muito dele, que é a capacidade para ouvir os outros.
Agora, que chegou às bancas o seu último livro, As Receitas Cá de Casa, e eu vivo um duro sentimento de perda, achámos, 24 anos decorridos, que era tempo. E como foi bom o nosso abraço!
Parece que foi ontem, Sábado, 22OUT15
Manuel Luís Goucha: um abraço que chegou a tempo
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