Tive a felicidade de poder regressar neste Verão a duas ilhas magníficas: Porto Santo e São Miguel. Sendo bastante diferentes, a tranquilidade e a beleza natural são pontos de união. Mas descobri agora, na volta completa à maior ilha açoriana, que existe outro factor que a une à pequena madeirense: a ausência de vigilância policial nas estradas. Percorri quase 800 quilómetros em São Miguel e só vi carros da polícia em Ponta Delgada. Fora da capital, nem um! E não foi por acaso, já que as inacreditáveis tropelias efectuadas nas rodovias micaelenses – normalmente por condutores de viaturas comerciais e não por turistas – revelam que, como o perigo, a impunidade é regra e é total.
Tenho, ano após ano, sensação idêntica em Porto Santo, em especial na Estrada Regional 111, que liga Vila Baleira aos principais hotéis, e onde a dimensão das rectas e a inexistência de radares ou lombas quebra-molas permite aos artistas locais – quase sempre também em veículos comerciais – fazerem de Alonsos e Hamiltons, perante a estupefacção e o receio dos visitantes, que logo percebem ter caído numa terra sem lei. Na estrada – porque no resto tudo é pacífico e acolhedor.
Claro que não é um problema das ilhas, mas do estado de penúria e negligência a que chegámos. No meu bairro lisboeta, igualmente sem lombas e sem polícias, o que não falta são aceleras. E impunidade.
Observador, Sábado, 24SET15
Porto Santo e São Miguel: longe da Europa
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