A polémica permanente em torno da justiça assentou arraiais numa das últimas decisões de Carlos Alexandre: a de mandar pôr a polícia à porta de Ricardo Salgado. Por muito que pareça estranho que só um ano depois de ter rebentado o escândalo do BES é que o banqueiro seja arguido e impedido de contactar com os outros arguidos, ou que não se perceba qual o critério que levou à imposição da prisão domiciliária com PSP em vez de pulseira electrónica, não serei eu, que nada sei do processo – ao contrário dos que o debitam de cor – a criticar o trabalho daquele a quem a parolice nacional, que também ataca os jornalistas, designa por superjuiz. Que cumpra o seu dever até ao dia em que o sistema, pressionado pelos anticorpos que criou, o remeta para o gabinete dos irrelevantes.
Preocupa-me bem mais a dimensão da aldeia. Ainda na semana passada, logo após as notícias sobre Salgado, a televisão me informava que uns aldrabõezecos, que burlaram já nem me recordo quem, ficaram em prisão preventiva por decisão… adivinham? De Carlos Alexandre, claro.
E é esta coisa pequenina de haver na capital da ruralidade europeia um único juiz para ouvir tanto o grande burlão como o badameco que rouba o chouriço à mãe que me faz confusão. Em democracia, o poder não se concentra, reparte-se.
Observador, Sábado, 6AGO15
Só há um juiz na aldeia
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