Há 48 horas que ninguém arranjava um escândalo que envolvesse José Sócrates. Chegou agora o respeitável Mário Crespo com uma história de café ou melhor, de restaurante de hotel, que envolve o chefe do Governo e alguns ministros, que terão dito a Nuno Santos, em tom exaltado e que pôde ser ouvido por outros clientes, coisas lamentáveis sobre o jornalista e que o próprio, informado do caso por uma testemunha, não hesita em divulgar. Elas vão desde o “mentalmente débil” ao “louco”, passando pela sugestão de internamento “no manicómio”.
Todos os governos do Mundo, ao longo dos tempos, têm procurado combater – com meios legítimos as democracias, à bala as ditaduras – os que se lhes opõem, incluindo a comunicação social. Acho por isso muito bem, discordando da forma e em especial do conteúdo das suas afirmações, que Sócrates não goste de Mário Crespo e que o considere “um problema que deve ter solução”. Desde que por aí se fique. Não passará por ele a “solução”, nem Francisco Balsemão o consentirá.
Também ao contrário da corrente bem pensante concordo que o texto de Mário Crespo enviado para o “Jornal de Notícias” haja sido rejeitado por José Leite Pereira, já que é ao diretor de um jornal privado que cabe a responsabilidade de decidir sobre o que se publica ou não. Se faz bem ou mal competirá aos leitotes do JN ajuizar e retribuir na moeda que entenderem.
Enquanto for diretor do “Record” não hesitarei em recusar a publicação de qualquer texto que entenda ser contrário aos interesses dos leitores do jornal ou que possa provocar dano ao grupo em que ele se integra e aos seus trabalhadores.
Dito isto, acrescento apenas a tristeza que é viver num país em que o primeiro-ministro se preocupa aparentemente mais com os jornalistas do que com as dificuldades da vida de todos os dias, concentrando baterias naqueles que, como Mário Crespo, fazem o seu trabalho com rigor e isenção, mesmo que por vezes deixem perceber que não apreciam alguns malabarismos em que o poder é fértil.
Sócrates só gosta de reverências e de aplausos, mas o que não falta por aí é quem dobre a espinha à sua passagem. Eu prefiro ver em Carnaxide um homem inteiro. Antes “louco” que vassalo.