Com a participação no medíocre Festival da Canção, da RTP, Simone abriu a porta à crítica fácil, óbvia, quase consensual. O baronato das redes sociais, então, delirou.
Não falamos de um Avô Cantigas, que reaparece todos os anos com a mala da voz modesta que lhe marca a carreira. A sua praia é divertir as crianças e isso ele faz, não precisa de perseguir mais nada. Ao contrário, Simone tem um nome a defender, não pode regressar a uma actividade em que foi grande, apenas porque sim. E a verdade é que a sua interpretação de À espera das canções constituiu um momento muito triste – e especialmente duro para aqueles que a admiram – já que a comparação com a cantora poderosa de tempos que não voltam foi inevitável. A velhice é cruel e tenho a certeza que o conhecido espírito crítico de Simone também não gostou do que viu.
Dito isto, resta o combate que vale a pena – aquele que se trava contra o preconceito que exige que não se aproveite a vida até ao fim. E para essa luta, como para outras, o contributo de Simone é notável. Vincam-se as rugas no rosto de papel amarrotado, resiste um fiozinho na voz de 77 anos e, todavia, como a Terra, ela move-se, existe, não se fecha em casa, deprimida e acabada.
No sábado, depressa varri a tristeza inicial para desfrutar da emoção pela coragem da artista que enfrentou o esquecimento e esteve lá. Velha? Sim, mas também diva e como tal eterna.
Observador, Sábado, 12MAR15
E todavia Simone existe
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