O arrogante Mou. Tentando contrariar a postura da comunicação social portuguesa – contra a qual Record tem feito o seu percurso – que se sente confortável com a trilogia suicida do treino, joguinho e conferência de imprensa, a reportagem da SIC juntou José Mourinho com o homem que lhe abriu as portas do sucesso: Manuel Fernandes, o inesquecível “capitão” do Sporting. E foi bom ver como Mourinho reconhece e agradece o que por ele fez o grande Manel, e lamenta nunca ter conseguido retribuir-lhe a oportunidade. Para “arrogante” não está mal, eu cá desconfio é dos mansos, feitio meu.
O tabu egípcio. É certo que Mou também tem uma face no lado oculto da Lua, que é a que nos leva até um dos seus maiores tabus: a insistência num tal Mohamed Salah, um rapaz egípcio a quem jamais se viu – pelo menos eu não vi, vá lá – jogar nada que interesse sequer ao gato.
Farto de Capel. Deve ser próprio dos treinadores, que entendem do que nós, simples curiosos, não entendemos. Veja-se Marco Silva, de quem sou fã – por ser um treinador com qualidade e enorme potencial, e um homem que foge à quadrada estupidez do circo. Deixa Mané e Montero no banco para insistir com Capel, que já todos vimos que nunca irá passar daquilo? Ontem, então, foi um chorrilho de asneiras.
Geraldes na cabeça. Mas o Marco teria mais que explicar se me tivesse à perna. Por exemplo, o mistério do sistemático “desprezo” por André Geraldes, talvez o melhor lateral de que dispõe o Sporting, embora Jonathan Silva me encha cada vez mais as medidas. Quando o André jogou no Belenenses teve desempenhos fantásticos e eu interroguei-me sempre como teria ele vindo parar ao Restelo e quantos dias mais lá estaria. Estranhamente, só agora foi convocado, para ficar no banco, e não é utilizado na equipa B, o que torna igualmente incompreensível a gestão de recursos em Alvalade. Contra o Chelsea, Esgaio esteve tão fraquinho que só me vinha à cabeça o Geraldes, ainda que me pareça que o homem é melhor na lateral-esquerda do que à direita.
Camião do leite. É feio bater no ceguinho mas não há como fugir: o Sporting perdeu mais um confronto por causa da sua defesa de veludo. O primeiro golo nasce de uma falta para penálti de Esgaio, um lance infantil sem o qual o resultado seria diferente e talvez melhor. No segundo, vemos Maurício, com a velocidade do camião do leite, a “assessorar” Schurrle até ao remate fatal. Quanto ao terceiro golo, voltamos a ter o brasileiro a hesitar, dessa feita com a cumplicidade de William Carvalho, enervantemente lento, a deixar-se antecipar por Matic e Mikel – logo dois!
Toma lá vassoura. Outro factor que saltou à vista em Stamford Bridge foi a atuação de Carrillo, finalmente a exibir o grande talento que se lhe conhecia mas que tardava em aparecer em pleno. Ao pé dele, o tal de Salah faz a figura que eu faria se fosse pedir emprego ao “The New York Times”: metiam-me uma vassoura na mão e era se queria.
Tonelada a menos. Para o Sporting, é melhor a Liga Europa, pois os adversários estarão mais ao alcance de uma equipa que precisa de espaço, de respirar e de crescer. E, claro, de reequilibrar o plantel, a começar na defesa, que tem de levar uma volta. Com Bruno Alves, por exemplo, Rui Patrício ficaria com menos uma tonelada sobre os ombros. E bem merecia, que tornou a ser enorme.
Contracrónica, Record, 11DEZ14
O mistério de Geraldes e a defesa de veludo
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