O modo como se deu a detenção de José Sócrates constituiu uma primeira condenação. Mesmo que não venha sequer a ser acusado, da fama de criminoso já o ex-primeiro-ministro não se livra. As habituais fugas de informação e o julgamento na praça pública, iniciado logo na madrugada de sábado, de um homem que semeou ventos e suscitou ódios não deixam margem de manobra: politicamente, se estava ferido de morte, agora acabou.
Durante três dias, muitos dos que gostavam de Sócrates alimentaram ainda a esperança de que rebatesse os indícios que sobre ele recaem e que abandonasse o Campus de Justiça com o termo de identidade e residência com que lá entrara. Seria o princípio da tese do mal entendido que acabaria um dia com o arguido ilibado. Mas a realidade foi mais dura, o fumo parece intenso e a prisão preventiva surgiu como uma terceira condenação. Se a detenção no aeroporto já o castigara, a pena agravou-se. Ficou preso, o malandro, dirão os biltres que espalharam aleluias nas redes sociais.
Terceira condenação? E a segunda? Essa verificou-se ao longo do dia de sábado, quando a todo o momento se esperava ver chegar aos domínios de Carlos Alexandre um dos monstros da advocacia que rodearam Sócrates enquanto liderou o Governo e em especial a figura que traz marca na ourela, a de Daniel Proença de Carvalho. Mas tudo viria a resumir-se ao estilo tout court do defensor da família.
A ausência de Proença de Carvalho, fosse qual fosse o motivo, deu-me logo a certeza de que vinha aí o pior: para Sócrates, para António Costa e para o País.
Observador, Sábado, 27NOV14
A tripla condenação de Sócrates
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