Alexandre Pais

Ricardo Quaresma, o jogador maldito

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Não tenho especial simpatia por Ricardo Quaresma. Desde o dia de 2003 em que o então jogador do Sporting deixou o jornalista Bernardo Ribeiro “pendurado” junto à Porta 10-A do velho estádio de Alvalade, após ter combinado um trabalho para este jornal, que sei o que se pode esperar do homem. Mas como nunca me condiciono por sentimentos de caráter pessoal que a nada conduzem e nada acrescentam, também neste caso, aos leitores de Record, analiso com frieza a polémica em que se vê metido um futebolista maldito, perseguido por algo mais do que o seu desempenho em campo. E quando se mete o preconceito, é sabido que estou contra.
Começo por dar a mão à palmatória depois do texto que publiquei aqui, a 5 de janeiro, e no qual levantava dúvidas sobre a capacidade de Quaresma para “recuperar a velocidade, “trivelar” pouco e servir a equipa com humildade”. A verdade é que continua veloz, na execução e no raciocínio, “trivela” muito mas com êxito – como se viu na quinta-feira – e tem feito por se mostrar humilde, prestando à equipa, ele que não é um jogador de marcação, solidariedade e o esforço possível.
Dito isso, não embarco na tese da “desgraça” de Quaresma junto do selecionador por causa das “cenas” na Madeira. Paulo Bento preocupa-se mais com a floresta do que com a árvore e, mesmo exibindo o extremo portista qualidade para integrar o lote dos 23 do Mundial, para o chamar há que dispensar alguém, arriscando-se com isso a coesão do grupo. A sua convocatória está, assim, mais dependente do xadrez das lesões e do eventual “excesso” de gente para as alas do que de outros fatores, sendo certo que o “filme” da Choupana assustou um bocado os defensores do Planeta, que se dividem entre o chilrear dos passarinhos, o murmurejar das fontes e a beleza das flores.
Pelo mediatismo dado às suas atitudes no final do Nacional-FC Porto, esperava pior castigo para Quaresma do que a repreensão. Mas faltou coragem e sobrou arte. E sabem porquê? Porque quem relatou os factos não pode ter deixado de ver as provocações, de ouvir os insultos que levaram o jogador a cair na armadilha e a indignar-se. Sobre isso, zero, nem uma palavra, apenas um novo assobio para o ar. Compreende-se, num país onde se segregam os velhos, os diferentes e os mais fracos, também não se deve permitir o sucesso de um cigano.
Canto direto, Record, 5ABR14

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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