Antes de ficar a cinco pontos do líder, alguns observadores diziam que o Sporting beneficiava da época de menor rendimento de FC Porto e Benfica. E mesmo tendo em conta que os leões se “transfiguraram” totalmente em poucos meses, não deixava de ser verdadeira a quebra de produção dos rivais. Chegados a fevereiro, o que se verifica é que essa quebra continua a ser indesmentível nos portistas e foi metida na gaveta – veremos se de vez – no caso dos encarnados.
O último jogo confirmou a deficiente forma do FC Porto, que após realizar uma razoável exibição até à marcação do segundo golo entrou numa “amnésia” coletiva em que os jogadores partiram – e largaram os seus robôs em campo. O erro de Mangala e o azar de Alex Sandro no lance do empate ilustram exemplarmente o poder arrasador da desconcentração mas também a fase negra em que tudo corre mal ao campeão. Com uma defesa de luxo e finalmente com extremos – mas nem por isso com Jackson Martínez a ser melhor servido – a equipa de Paulo Fonseca não consegue ultrapassar a menor valia do seu meio-campo. Quintero é uma quimera, Defour tarda em se afirmar, Fernando está longe da grande condição que o distinguia, o Herrera de seleção ainda virá a caminho, Carlos Eduardo perdeu-se na bruma e Josué tem entradas de dragão mas cedo se lhe vai o fogo. A falta do “cimento” que Lucho constituía, e que disfarçava a ausência de Moutinho, criou um problema de difícil solução.
Já o Benfica deu um salto em frente e parece ter posto fim a um período de irritante irregularidade. A vitória em Salónica confirmou a subida de nível exibicional, com Jesus a deixar no banco Oblak, Siqueira e Rodrigo, e a utilizar Fejsa e Markovic apenas a meio da segunda parte, depois de Cardozo, Gaitan e Garay terem ficado em Lisboa. O treinador está a ganhar o desafio que desgraçou, ao longo dos tempos, tantos mestres da utopia: dispor não de 11 mas de 17 ou 18 jogadores com condições – técnicas, físicas e mentais – para serem titulares. Como se não bastasse a fartura do plantel, agora até Sálvio voltou a entrar em ação. Enquanto Paulo Fonseca passa noites acordado, Jesus dorme como um bebé.
Canto direto, Record, 22FEV14
Jorge Jesus, o mestre da utopia
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