A entrega do Record de Ouro a Jesualdo Ferreira, na cerimónia breve que ontem teve lugar na nossa redação, permanecerá na minha memória como um dos grandes momentos que vivi em mais de dez anos como diretor de Record. A par de outros, igualmente inesquecíveis e que marcarão para sempre a história deste jornal incómodo e ao mesmo tempo de afetos, livre e também sereno, voltado para o futuro mas respeitador do passado.
Talvez esta simples e mais do que merecida homenagem a um nome grande do futebol português, tricampeão nacional pelo FC Porto e figura de referência para todos os que trabalham nesta atividade apaixonante – a que os jornalistas pertencem, sem pertencerem ao circo dos interesses e da promiscuidade – me marque, todavia, um pouco mais.
Porque Jesualdo construiu a sua carreira a pulso, ou seja, não lhe caiu ouro na sopa. Estudou, preparou-se, trabalhou com jogadores mais jovens, andou pelos escalões secundários, foi adjunto. E ultrapassou críticas, invejas e descrenças até ver chegar a hora do triunfo e da consagração. Tinha 61 anos quando conquistou o seu primeiro título, a que se seguiriam mais cinco. Simplesmente notável.
Somos da mesma idade e conheço bem o preconceito reinante contra os que trocaram a frescura dos verdes anos pela acumulação de conhecimento e pela especialização na dúvida, na inquietação e no bom senso. Apontei aqui, diversas vezes, o erro de Godinho Lopes em tardar a entregar a Jesualdo o comando técnico do Sporting. Mais cedo tivesse chegado e estariam os leões na Europa.
Vejo-o agora, de novo em Braga, com emoção e expetativa. E abraço este meu companheiro da longa viagem.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 29 junho 2013