Eu sei, leitor. Eu sei que está intensa a luta a dois pelo título, que há outra dupla a lutar pela terceira posição que pode dar a Champions, que há mais seis clubes a disputar o quinto lugar, que assegurará a última vaga europeia – ou a penúltima, se contarmos que, de outro duelo, entre Belenenses e V. Guimarães, sairá, através da Taça de Portugal, mais um concorrente para a Liga Europa. Como sei que há igualmente seis emblemas envolvidos na fuga à descida de divisão, o que quer dizer que as 16 equipas do escalão principal continuam todas empenhadas num objetivo. Até o sexto classificado, lembro-me agora, pode aspirar ao sonho europeu, se o Vitória acabar no quinto lugar e for à final da Taça. Estas incertezas, quase até ao finzinho, dão saúde e vitalidade ao futebol português.
Mas que são esses despiquezitos comparados com a proeza do “meu” Belenenses, que assegurou no passado sábado a subida à Liga 1, a 9-jornadas-9 do final da Liga 2? Com o melhor ataque da prova, a melhor defesa, 19 pontos (!) de avanço sobre o segundo, 24 (!!) sobre o terceiro e o título quase no bolso… Estou convencido, com algum realismo mas também com a fé que nunca falta a um adepto que se preze, que o “Belém”, com esta equipa ligeiramente “retocada”, poderá na próxima época conseguir um campeonato não só tranquilo, como constituir mesmo a surpresa da competição.
O mérito pertence, evidentemente, a muita gente, dos jogadores aos técnicos, dos associados aos roupeiros, da direção ao investidor. Mas como escrevi aqui que duvidava do perfil de Van der Gaag para alcançar este resultado – não por falta de capacidade técnica, apenas de “matreirice” para vencer nesta selva – afirmação, aliás, de que já me penitenciei junto dos leitores e do próprio, permitam que lhe deixe hoje um público abraço de admiração. Grande Mitchell!
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 2 abril 2013