Futebolista vulgar, Erik ten Hag tem tido melhor carreira como treinador. Mas não é um grande treinador. Falta-lhe currículo fora da Holanda e experiência a gerir egos de estrelas do futebol, pelo que se entende a forma canhestra como tem abordado o elefante na loja de porcelana que dá pelo nome de Cristiano Ronaldo. Pior que tudo ainda é aquilo que sabemos hoje: o holandês é um fingidor, não é uma boa pessoa.
Ten Hag começou por convencer a maioria dos fãs do Manchester United e dos admiradores de Cristiano: queria contar com ele e repetiu-o ‘n’ vezes. Afinal, o que se esperava é que, finalmente, o MU encontrasse um técnico capaz de pôr a funcionar como equipa um conjunto de duas dezenas de vedetas milionárias, um líder que conseguisse convencê-las – como referiu há dias António Oliveira a propósito do Benfica de Schmidt – a ‘comprar’ o seu projeto. O que está, aliás, a acontecer em Old Trafford.
É verdade também que Ten Hag tem razão quando afirma: “Jogas numa equipa e tens de viver de acordo com os seus padrões e isso é para toda a gente, não interessa quem és, caso contrário é uma confusão”. A questão é que esse discurso contradiz um anterior, em que o treinador se desculpou com o respeito pela carreira de Cristiano Ronaldo para não o fazer entrar na partida do Etihad, em que o United levou uma ‘abada’ do Manchester City – há apenas três semanas. Em que ficamos, careca? Interessa ou não interessa quem és?
Pode-se compreender a única substituição do MU no jogo contra o Newcastle, a de Cristiano aos 72 minutos, substituição que Ten Hag justificou com o facto de ter havido quatro desafios em dez dias – parecia lógico. O incompreensível veio no confronto seguinte, frente ao Tottenham, em que Cristiano voltou a não ser titular e o treinador o mandou aquecer durante três quartos de hora (!) – criando-lhe a óbvia expetativa de o meter em campo em breve – para só o chamar a três minutos do final, com o marcador em 2-0… desde os 69 minutos! Pura canalhice.
O editor britânico Piers Morgan definiu como ‘patético’ o modo como Ten Hag “parece estar a gostar de humilhar o Cristiano”, e Graham Souness, antigo treinador do Benfica, classificou-o como “uma indignidade”. Já a controversa lenda do críquete, Kevin Pietersen, exigiu que retirassem uma foto sua de um ‘post’ do United, no Instagram, explicando o gesto da forma extravagante que o caracteriza: “Não quero uma ligação com um clube treinado por um palhaço que está a faltar ao respeito ao melhor futebolista dos nossos tempos! Esse palhaço, que ninguém nunca recordará, precisa de acordar!”
Resumindo. Quando o United jogava aos repelões e saía goleado, Ten Hag simulava respeitar Cristiano, desfazendo-se em ‘boas’ desculpas. Mas assim que a equipa conseguiu uma exibição de encher o olho aos adeptos, lançou-o às feras como o mau da fita. Existe, contudo, um problemazinho no horizonte do fingidor dos Países Baixos. É que o MU está fora da zona Champions com um terço do campeonato decorrido e enquanto a vulgaridade precisa de ter sorte demasiadas vezes – e ela acaba-se – os mitos são imortais. E não me admiraria que antes de terminar a época Ten Hag se visse obrigado a pagar a fatura dos ventos que cinicamente semeou.
Outra vez segunda-feira, Record, 24out22