Quando Record erra, pede desculpa. Nem sempre assim foi, na tradição da velha imprensa desportiva que nunca se enganava, ou de alguma dela que continua a querer dar a ideia, obviamente errada, da sua infalibilidade. Mas há quase oito anos que emendámos a mão, com a certeza, facilmente comprovável pelos números, que o leitor merece e aprecia esse gesto de humildade.
O que Record não faz é prestar assessoria à direção dos clubes, nem os seus jornalistas algum dia serão notícia pela sua presença nos “convívios” em que alguns dirigentes estudam a melhor maneira de desancarem a concorrência.
Também o diretor de Record – contratado pelos acionistas para editar e gerir um jornal – não se reúne, não almoça, não janta, não viaja com presidentes de clubes ou de outras organizações, a quem, mesmo em contactos fortuitos, não pede o número do telefone, nem fornece o seu – e muito menos permite que lhe segurem no guarda-chuva. E isso acontece apenas porque a sua função como jornalista não é traficar notícias, nem deixar-se condicionar, e o seu trabalho como gestor não é defender os interesses alheios.
Record reage assim com superioridade moral e distância aos recentes comunicados produzidos por JE Bettencourt, ou a seu mando, e que, nunca referindo Record, nos pretendiam atingir, contrapondo, às notícias verdadeiras que demos, a vã tentativa de justificar insucessos que é o seu desmentido. E ameaçando impedir a nossa entrada nas instalações leoninas – o torpe preço que pretendem cobrar para que nos calemos.
Ainda no último sábado, no prestigiado “AS” do país vizinho, se avançava, como exemplo, com o direito dos jornais em apagar, nas fotos a publicar, as marcas dos patrocinadores das camisolas ou dos painéis das entrevistas no final dos jogos. Não cairemos no erro dos dirigentes do Sporting, acenando-lhes com esse boicote, mas queremos que entendam que escolheram o pior caminho. Porque não nos silenciarão. Melhor fariam em trabalhar com mais competência. Aliás, se a tivessem, não veriam, à 7.ª jornada, o FC Porto a… 10 pontos. E esse é que é o seu problema.
Editorial, publicado nas edições impressa e online de Record de 5 outubro 2010