Rodrigo Guedes de Carvalho já ganhou o estatuto de senador e pode dizer o que pensa sem ser penalizado. Foi o que fez numa entrevista à ‘TV Mais’ em que ‘acusou’ as direções e chefias das redações de não olharem “a sério duas ou três vezes” para os estagiários, “por falta de tempo ou de vocação”. Rodrigo falava obviamente de televisão, mas o desgraçado fenómeno está hoje generalizado – na verdade, chegou há largos anos – por um motivo simples: a informação tornou-se num negócio igual a muitos. E para poderem pagar os salários as empresas têm de controlar com mão de ferro as despesas com pessoal. Também as outras, mas mais essas porque a tendência é achar-se que trabalhar cansa e que cabe sempre mais um.
Quanto à “falta de tempo ou de vocação”, diria que é um bocado de cada. Falta o tempo porque por vezes se entende que se fomos chamados a mandar é para sermos ‘pensadores’ e ‘criativos’ – e já os enganámos. E falta a vocação porque boa parte dos que hoje lideram sabe pouco. Foram igualmente ‘lançados às feras’ e fazem aos pobres estagiários o que lhes fizeram a eles.
Fica bem a Rodrigo assumir a meritória tarefa de suprir essa lacuna. É um dos moicanos que restam antes da extinção definitiva.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 11dez21