Havia três jogos que não marcava, uma calamidade, estava zangado com o Mundo, no balneário não falava com ninguém, deixara de ser um exemplo para os colegas, queria sair de Turim e talvez até reduzisse o salário… De tudo se leu e ouviu, não sobre a paupérrima produção de jogo da Juventus que vulgariza qualquer futebolista, mas sobre um iminente agonizar de carreira de Cristiano Ronaldo.
Só que aconteceu o muitas vezes visto: bastaram seis minutos quase ao cair do pano em Udine – e após mais um desgraçado desempenho da equipa – para CR7 apontar dois golos, virar o marcador, fazer “voltar” a Juve à zona Champions da classificação e ser saudado em apoteose por todos os companheiros, Andrea Pirlo incluído. O que teria sido se ele os tratasse bem no balneário!
E afinal os números de Cristiano pouco mudaram de abril para hoje: 27 golos em 30 jogos na Serie A, 34 em 40 na época, 99 em 129 nas três temporadas em Itália. E a contar. Mais: no top de goleadores, em Inglaterra, está Harry Kane com 21 golos, em França, Mbappé tem 25, em Espanha, Messi acaba de chegar aos 28, e só Lewandowski, na Alemanha, com 36, está longe. Até o fenómeno Haland soma 25 golos, como André Silva. Se isto é estar em crise…
Por falar em crise: no país vizinho, o drama está centrado em Simeone e na forte probabilidade de sair de Camp Nou, no próximo sábado, com um resultado negativo. Ainda que nesta fase todos os desafios constituam um sufoco para o Atlético – salvo, no sábado, por mais um penálti, o terceiro, que a turma adversária não foi capaz de concretizar. É que perder a liga depois de ter desfrutado de tantos pontos de avanço seria uma desilusão insuportável.
Como português – e sempre madridista – torço este mês pelos “colchoneros”, por causa de João Félix e da importância que o título pode ter para o seu futuro. Se for campeão, a tendência será a de se esquecer uma época menos feliz, com lesões, jogos como titular substituído ou como suplente utilizado por pequenos períodos e apenas 10 golos em 36 presenças em campo. Mas se a sua equipa não conquistar o título, muitos se virarão para ele e o apontarão como um dos culpados pelo desaire, devido à modéstia do rendimento e ao elevado preço que o Atlético por ele pagou – convencido que ia contratar outro Cristiano Ronaldo.
As reações nas redes sociais à displicência de João Félix, por altura da marcação do penálti que podia ter dado, no sábado, o empate ao Elche, são um sinal do que aí virá se os de Simeone não vencerem La Liga. O passa culpas e a deceção profunda colocariam em risco a continuidade do João em Madrid e talvez até a sua permanência na galeria das estrelas emergentes do futebol.
O futebol do Sporting perdeu intensidade e vive agora muito, demasiado, de uma solidez defensiva que não dá sequer uma oportunidade de desenferrujar os músculos aos internacionais Antunes e João Pereira, que por este andar acabarão cheios de reumático. E vive também dos pontos que amealhou nos tempos em que, jogando muito mais, fez com que os rivais – e os comentadores encartados – se convencessem que a aventura não iria durar muito. Mais do que certo é que tanto o futebol que hoje produzem, como a vantagem pontual que têm sabido conservar, vão chegar aos leões para terminarem em primeiros. E lembram-se como começou o campeonato? Com o canto das cigarras, embevecidas com a sua grandeza…
E sobre a inenarrável macacada de Moreira de Cónegos, subscrevo, na íntegra, as declarações de Jorge Jesus quanto à bandalheira que se vive no futebol português e envio daqui um abraço de solidariedade ao Francisco Ferreira. E aplaudo o empresário Pedro Pinho por ter tido a coragem de reconhecer que procedeu mal, dizendo-se arrependido e pedindo desculpa. Todas as semanas vemos canalhices em muito semelhantes à que protagonizou e que geram um único “mea culpa” nos seus autores: o de fazer pior, se isso for possível, na semana seguinte.
A fechar, uma palavra de tristeza pelo desaparecimento de Mário Rosa Freire, um grande presidente, um dos maiores da história do Belenenses. Tive o privilégio de trabalhar no clube sob a sua liderança, primeiro, e por breves semanas, como secretário técnico, e mais tarde no “Jornal do Belenenses”, semanário que dirigi ao longo de quatro anos. Curvo-me perante a sua memória: Chapeau, presidente! E obrigado.
Outra vez segunda-feira, Record, 3mai21