Um dia chegou-me aqui ao Record uma “inspeção de trabalho”, exibindo uma postura de arrogância e maus modos que se julgava definitivamente banida da sociedade portuguesa. E ainda há pouco tempo fomos visitados por uma brigada da ASAE (!) por causa de um problema de publicidade que nos ultrapassava. Foram corretos mas estavam nervosos e exigiram ser imediatamente atendidos, como se toda a gente estivesse por conta deles.
Quem viaja para fora da União Europeia tem, no regresso a casa, o exemplo acabado das caraterísticas antissociais desta gente em alguns funcionários alfandegários dos aeroportos, que nos olham ou nos abordam com a prepotência de uma polícia de defesa do Estado.
Dou estes exemplos para dizer a seguir que se os problemas de Carlos Queiroz assentassem apenas no seu enfrentamento com a autoridade antidopagem, eu estaria do lado dele. Imagino os ares de importância daqueles clínicos, cientes do seu poder, a tentarem pôr e dispor como se fossem o centro do Mundo.
A questão é que Queiroz não precisa de inimigos, nem que se inventem histórias para o prejudicar. O selecionador nacional, que parece ser todo ele “low profile”, é na realidade uma fábrica de casos. Em vez de dar aos inimigos – e tem muitos e muitos por pura inveja – a desvantagem de terem de iniciar as hostilidades e de se haver depois com a resposta, ou com a falta dela, avança ele próprio para as “guerrinhas”, por vezes até com um simples jornalista que o critica e a cujas palavras dá uma dimensão injustificada.
Ainda anteontem dizia que não era “alcoólico”. Como a ninguém, julgo eu, passa pela cabeça que seja, Carlos Queiroz referia-se a quem? É com recados permanentes e declarações ambíguas que o selecionador quer manter o pé? Ele não verá que quanto maior for a bola de neve mais facilmente deslizará?
Acho um erro despedir agora Queiroz, mesmo que ele se ponha a jeito. O seu assassínio profissional, ou a simples tentativa, sendo próprio deste país, é mais um ato menor que fica a crédito da cobardia e da iniquidade.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 1 agosto 2010