Partiu mais um, o segundo em seis meses, dos sete maiores futebolistas de sempre, quase no mesmo dia em que nasceu uma oitava maravilha dos estádios. Depois de Eusébio, desapareceu Di Stéfano, aquele que foi para mim o maior e o mais completo jogador de todos os tempos, à frente até de Pelé, Maradona, Cruijff e do nosso “King” – tive o privilégio de ver atuar os cinco.
Ao lado desse quinteto estelar estarão já Cristiano Ronaldo e Messi, embora só o final das carreiras possa dar a real dimensão do seu percurso para uma avaliação final de grandeza. Quem é, então, o oitavo membro do privadíssimo clube dos génios indiscutíveis da bola? Incomodados por só lá verem Pelé, com dois portugueses e dois argentinos – ou dois e meio, se “dividirmos” Di Stéfano pelas suas duas pátrias – os nossos amigos brasileiros, após o falhanço de sucessivas tentativas, tudo têm tentado para colocar Neymar nesse invejado patamar, sem que o jovem prodígio consiga confirmar no terreno tal expectativa. O seu rendimento no Barcelona tem sido modesto e o Mundial também não o ajudou a deixar extasiado o Planeta Futebol.
Pessoalmente, desconfio dos jogadores que “comem” a bola ou a “levam para casa” porque o futebol é mais do que uma arte circense, tem esse determinante pormenor que é o de se ter de tirar conclusões e apresentar resultados. Mas se não vi ainda Neymar conseguir nada – até porque caiu no Barça na época errada – não me furto a valorizar o sinal superior que recebeu e que deve ser considerado benção divina a um predestinado. O facto de uma “oportuna” lesão o ter afastado da “canarinha” antes da partida com a Alemanha – e de assim haver escapado à hora negra em que a dama do Caravaggio disse a Scolari que a proteção acabou – revela que o seu momento está por chegar. Porque jogador algum, neste mundo ou no outro, poderia sofrer aquela humilhação e entrar um dia no restrito “Clube dos 8”, esse dos deuses do futebol que por enquanto são só cinco mais dois.
Mesmo tendo fugido à goleada, espera-se que Neymar tenha subido o degrau e retido a maior lição do futebol, tantas vezes repetida e sempre esquecida: a de entrar em campo sem convencimento e atuar como se fosse o último jogo da vida. Até também ele perceber isso, os oito magníficos serão apenas sete.
Canto direto, Record, 12JUL14