Como aqui previ há uma semana – não era difícil – Cristiano Ronaldo entrou de férias mais cedo do que esperava. Mas despediu-se com dois golos, o último de antologia, e fechou a época com 48 em 52 jogos, uma autêntica proeza para um rapazinho de 35 anos. E fiel a uma postura irrepreensível com os seus treinadores, CR7 não destratou Sarri – como Džeko fez com Paulo Fonseca – o que poderia justificar-se tão medíocre foi o trabalho do napolitano. Veremos se Agnelli não terá cometido novo erro com o “desvio” de Andrea Pirlo para a turma principal, no que será o primeiro desafio como técnico daquele que foi um jogador extraordinário – o que raramente basta. Zidane começou pelo Castilla, Guardiola pelo Barcelona B… E Mourinho por assistente de Robson.
Mas o adeus de Cristiano à segunda Liga dos Campeões ao serviço da Juventus foi seguida, “ao minuto”, pelo adeus do Real Madrid à segunda Champions desde que CR7 partiu – e juntos conquistaram quatro! Não é novidade, as duas derradeiras temporadas confirmaram a estupidez de um divórcio que fez com que Cristiano deixasse de ter uma equipa – na Juve não há um Sérgio Ramos, um Casemiro, um Benzema… – e o Real perdesse o maior goleador da sua história. O que teriam logrado os merengues se pudessem ter contado com os 65 golos que CR7 já marcou pelos bianconeri? É certo que o Real e o seu mito português se sagraram campeões, uma pálida consolação para as ambições de ambos e, mesmo essa, porque o Barcelona esteve muito abaixo do habitual e o Inter acordou tarde – e não aproveitou o agónico final de liga do errático grupo de Sarri.
Por mim, madridista de sempre e adepto da Juventus enquanto lá estiver Cristiano, direi que nem me sinto tão triste assim. É que vendo a forma em que se encontram Bayern e PSG, e agora igualmente o Manchester City, ter “morrido” nesta altura talvez não tenha sido o pior de tudo. Quem sabe se uma humilhação ainda maior não esperava por nós em Lisboa? Seria mais que provável…
O último parágrafo é dedicado ao espírito de equipa. Não ao que proclamam os espertalhões que querem dar a ideia de uma capacidade para atingirem objetivos superior à que na realidade têm. Não ao dos grupos de trabalho em que as segundas figuras fingem apoiar o chefe, quando de facto esperam apenas uma oportunidade nascida da sua queda. Não, refiro-me ao espírito de equipa genuíno, o que faz com que todos puxem para o mesmo lado e coisas positivas aconteçam. Como aquele sentimento de profunda solidariedade que se pode perceber no “abraço coletivo” dos técnicos do Wolverhampton após cada golo dos “lobos”. Um gesto que se vê ser espontâneo, pois nunca lá faltam dois braços! Trata-se de um fantástico exemplo de união que resultou na eficácia expressa pelo sétimo lugar na Premier – uma intromissão entre os “tubarões”, com os mesmos pontos do Tottenham e mais três que o Arsenal – e pela presença nos “quartos” da Liga Europa. Nuno e amigos: chapeau!
Outra vez segunda-feira, Record, 10ago20
CR7 e Real Madrid: um divórcio estúpido que continua a causar danos
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