O confinamento de toda a equipa do Dínamo de Dresden, da segunda liga alemã, e os casos de covid-19 que vão sendo detetados nos clubes portugueses – V. Guimarães, Famalicão, Moreirense, Benfica… – são os primeiros sinais negros desse salto no vácuo que é o recomeço das competições. Mas para não invocar os demónios, prefiro referir-me hoje à entrevista que o venerável Arsène Wenger, de 70 anos, deu à rádio britânica Talksport.
Nunca nos veremos livres dos Nostradamus de ocasião, sempre prontos a prever a morte, sabendo-a inevitável, para um dia poderem dizer: viram, eu não avisei? Foi o papel a que se prestou o veterano treinador, ao fazer uma previsão óbvia: “O reinado de Messi e Cristiano está a chegar ao fim”. Depois, o clarividente francês apontou os nomes dos jogadores que “reinarão” no futuro: Mbappé e Neymar. Mas aí tudo é menos previsível e dificilmente Wenger ganhará a aposta.
Mbappé, campeão do Mundo aos 19 anos, necessita da equipa que teve CR7 – do Real Madrid, mais precisamente. Acertou ao ter preferido antes o PSG aos merengues, escapando ao descalabro que se seguiu à partida de Cristiano, mas esse passo parece agora determinante, uma vez que precisa de uma liga e de uma equipa que projetem o seu futebol, aliás, um futebol muito dependente da velocidade. Como será quando não correr mais que os defesas adversários? Disporá da capacidade do internacional português de se ir adaptando ao relógio do tempo?
Por seu lado, Neymar pode não ter sido a melhor escolha para rival de Mbappé. Tem 28 anos, mais sete que o gaulês, e não lhe bastará regressar a Barcelona – onde Messi só deixará de “reinar” quando o brasileiro já passar dos 30… Ele terá ainda de fazer com que a sua estrela brilhe pelo menos com a mesma intensidade da do argentino, proeza em que só Wenger acreditará. Mais relevante, porém, é que para Neymar subir ao patamar de Cristiano e Messi precisará de deitar fora a cabeça que Deus lhe deu e de a substituir por outra que lhe proporcione a compostura profissional, a capacidade de superação e a mentalidade ganhadora que fizeram com que os “reis” desta geração reunissem a admiração do planeta do futebol. Com simulações em campo, birras no balneário, declarações estapafúrdias e comportamentos de “bagunceiro” na vida social, Neymar não passará, no que lhe resta de carreira de alto nível, de um talentoso menino mimado.
Um último parágrafo para o secretário de Estado do Desporto, por estes dias alvo de acusações de eventual favorecimento da empresa de um amigo. O caso, real ou suposto, retira o foco do que merece condenação: a total irrelevância do seu papel executivo. A culpa não será dele, antes das atribuições cometidas ao cargo e que transformaram igualmente em figuras decorativas aqueles a quem sucedeu. Mas a arrogância de que se revestem as suas aparições públicas, essa sim, é uma catástrofe – para ele e para o Govern
Outra vez segunda-feira, Record, 11mai20
Arsène Wenger é bom a prever o previsível
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