Durante décadas, veremos como será em outubro, o sucesso do PSD resultou muito de um fator cultural: a sua ligação às nossas raízes. Porque mesmo vivendo nas grandes cidades, haverá poucos portugueses cujas origens, recentes ou mais remotas, não estejam no interior do país, naquilo a que noutros tempos se designava por “província”.
É dessa associação ao Portugal profundo, ao cheiro da terra, que resulta o êxito de “Quem quer namorar com o agricultor?”: ainda que a segunda série seja pior que a primeira, isso não afasta os espectadores do programa. E pior porque não dispomos assim de tantos agricultores disponíveis para arrastar para os serões da SIC meninas casadoiras da qualidade das da versão australiana, por exemplo.
Daí que os supostos pretendentes continuem, com uma ou duas exceções, sem quinta, sem sinais de abastança e sem casa – a mansão pré-fabricada do João Neves lá foi para o Alqueva… – e as pretendidas, ou talvez não, pareçam genericamente obesas, feiazinhas e entradotas. Nada que nos faça deixar de meter o bedelho na lida das hortas ou na ordenha das cabras. E com a arte da produção a embrulhar a coisa, caímos como patos. Tivesse Rui Rio esse dom e outro galo cantaria no laranjal.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 22jun19
Tivesse Rui Rio esse dom…
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